Conheça a história da construção de um legado de honra profissional e pessoal, que auxiliou na atuação de cirurgiões-dentistas e beneficiou milhões de brasileiros.
A data de 10 de agosto de 2023 marcou um dia de luto e homenagens ao cirurgião-dentista Emil Adib Razuk, que faleceu aos 87 anos deixando uma história de importantes realizações e conquistas que marcaram definitivamente a Odontologia brasileira. Em especial, por sua atuação nas gestões à frente do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp) e como Deputado Estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
Descendente de libaneses, Emil Adib Razuk nasceu na cidade de Pederneiras, interior de São Paulo, e graduou-se em Odontologia pela Universidade Estadual Paulista, em Araraquara, posteriormente se especializando em Ortodontia e Ortopedia dos Maxilares. Sua personalidade proativa e mentalidade política já se destacavam nos primeiros anos da faculdade, quando foi eleito presidente do Centro Acadêmico Sampaio Vidal em 1956 e, no ano seguinte, vice-presidente da União Estadual dos Estudantes.
A preocupação com o coletivo, a visão social e a grande capacidade de articulação foram os propulsores de uma carreira pautada por importantes ações para a criação e desenvolvimento de políticas públicas e programas especiais que geraram à população acesso ao atendimento odontológico.
A rica trajetória de vida de Emil Razuk foi documentada em detalhes desde a sua infância, passando pela juventude e abordando a sua vida adulta na biografia “Sorriso que transforma vidas”, escrita a partir de relatos feitos ao jornalista José Donizetti Morbidelli, sob a coordenação editorial dos seus filhos, Gustavo Emil Razuk e Renata Razuk Salomão. Toda a renda obtida com a venda do livro é revertida ao Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês, para projetos da UTI neonatal do Hospital Geral do Grajaú.
As mais de 400 páginas da biografia levam o leitor a um mergulho na vida ativa de um homem que sempre esteve no centro de grandes ações, protagonizando realizações que transformaram o papel da Odontologia no País, mas que nunca agiu apenas em benefício próprio ou para sua autopromoção. Os grandes projetos que contaram com sua autoria, gestão ou participação sempre tiveram como foco principal a democratização do atendimento odontológico, a geração de oportunidades de mercado de trabalho para cirurgiões-dentistas, melhorias na qualidade de ensino e o fortalecimento e legitimidade jurídica do exercício da profissão.
Em 1965, Emil Razuk assumiu a vice-presidência da Associação Brasileira de Odontopediatria, na primeira gestão da entidade, passando à presidência por diversas gestões até 1996. Neste período, também foi membro da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, desempenhando um papel fundamental na construção da política associativa. Com o intuito de levar acesso à saúde bucal para crianças de baixa renda, em 1976 ele criou o Departamento de Assistência ao Escolar, que dirigiu de 1979 a 1982, e o Departamento de Saúde Escolar da Prefeitura de São Paulo, do qual foi diretor entre 1986 e 1988.
Sua atuação política e social o levou a ser eleito como Deputado Estadual em 1974, com mais de 33 mil votos, e sua atuação na Alesp foi marcada por importantes ações, como a criação do Projeto de Lei no457/1976, posteriormente transformado no Decreto no 10.330/1977, que tornou obrigatória a fluoretação das águas abastecidas pelo poder público. Seu mandato frente à Alesp não se resumiu apenas a assuntos concernentes à Odontologia. Sempre atento às demandas e necessidades da população, e preocupado com o pouco controle sobre os preços de produtos e serviços, Razuk reuniu políticos, empresários, representantes de entidades, publicitários e jornalistas no I Seminário de Defesa do Consumidor, evento criado e realizado por ele, cujo tema passou a ter maior visibilidade pela primeira vez.
Com toda sua rede de conhecimento, capacidade de articulação política e interesse genuíno em defesa da categoria profissional e da qualidade da saúde pública, Emil Razuk foi fundamental para a instituição do Conselho Federal e dos Regionais de Odontologia, pela Lei 4.324, sancionada em 1964. Em 1988, foi eleito presidente do Crosp, cargo que ocupou por duas décadas, dedicando-se com total afinco em gestões que engrandeceram a atuação da entidade e protagonizaram importantes conquistas para a Odontologia.
Sua articulação com autoridades de todas as esferas do poder público, desde vereadores até presidentes da República, colocou em pauta temas sensíveis e fundamentais para a classe odontológica. Razuk combateu veementemente a proliferação indiscriminada de cursos de Odontologia; protegeu o exercício da profissão na época da crise energética, lutando contra o racionamento de energia em clínicas e consultórios; e intermediou o bom tratamento a cirurgiões-dentistas brasileiros em Portugal.
Entre diversas outras ações, Emil Razuk foi o coordenador da campanha nacional de vacinação contra a hepatite B, considerado o maior programa de imunização já realizado por um conselho profissionalno País. Entre os anos de 2003 e 2012, o programa e concurso “A Saúde Bucal” foi considerado pela Unesco como a maior ação pedagógica de saúde bucal do mundo.
Assim como teve um papel fundamental nas políticas públicas de saúde bucal e na gestão para a construção de uma Odontologia forte e de qualidade, o marido, pai, avô e amigo Emil Adib Razuk igualmente construiu sua família e relacionamentos pessoais baseado em conceitos sólidos de ética, respeito, amor e consideração. Casado com Marilena Camasmie Razuk desde 1975, é pai de Gustavo Emil Razuk e Renata Razuk Salomão, e avô de Isadora, Luiz Gustavo, João Vítor e Marcelo. Uma família que sempre zelou por sua reputação, retribuindo toda a dedicação que recebeu do patriarca.
As incontáveis e sinceras homenagens dedicadas a ele por ocasião de seu falecimento, feitas por entidades públicas e privadas de todas as esferas, refletiram o reconhecimento e a grandiosidade da trajetória pessoal e profissional de Emil Razuk.
Resumir em poucas linhas a importância de Emil Adib Razuk para a Odontologia e a sociedade de maneira geral é uma tarefa impossível. Como diz Maria Lucia Zarvos Varelli, que assina o prefácio de sua biografia, “Talvez as novas gerações não tenham conhecimento de como essa trajetória – da qual se beneficiam – teve início até que chegássemos aos dias atuais. Contudo, fatos são fatos. É uma história digna e edificante, que nos conscientiza sobre a responsabilidade na construção de dias melhores e mais felizes”.