O que especialistas projetam para a Odontologia nesse novo período que se inicia.
Depois de um ano agitado, que teve eleições presidenciais, Copa do Mundo, conflitos entre Rússia e Ucrânia, altos e baixos da pandemia de Covid-19, que ainda não foi totalmente controlada, entre outras questões nacionais e internacionais que interferem no contexto social, político e econômico do País, 2023 chegou. E, como todo início de ano, o novo período traz esperança, mas também dúvidas e incertezas sobre qual cenário nos aguarda.
Para traçar um panorama do que podem ser os próximos 12 meses, a revista Sorrisos Brasileiros conversou com especialistas em economia e gestão que trazem uma visão analítica e realista sobre esse futuro próximo, apontando tendências e caminhos para os profi ssionais da Odontologia.
Flavio Saraiva, economista e professor da IBS Americas, aponta que os temas que têm maior influência nos prognósticos para Brasil são a taxa de câmbio e os juros. Ele lembra que, no passado, o Brasil já teve uma situação chamada de câmbio apreciado, em que cada dólar valia R$ 0,94. “Não temos que voltar para isso nos próximos anos. Uma das principais razões é a internacionalização da economia brasileira. Há muitos investidores estrangeiros que remetem lucros para seus países de origem, gerando uma pressão por saída de dólares”, explica.
O economista prevê que a taxa de câmbio do dólar vai se manter em um patamar elevado, convergindo para valores entre R$ 5,20 a R$ 5,30 por dólar, sempre considerando a volatilidade do mercado, que trabalha com modelos que sofrem alterações, na maioria das vezes imprevisíveis.
“Como boa parte dos produtos odontológicos são importados, eles continuarão caros, e os profissionais que viajam para o exterior e aproveitam para comprar alguns materiais, continuarão fazendo isso por algum tempo”, afirma Saraiva.
Ele diz que a oscilação do mercado pode gerar mais incerteza do que apenas a elevação do dólar. “O Banco Central acompanha as oscilações e interfere no mercado para impedir que a taxa flutue muito ou se estacione em um valor muito elevado. Isso prejudica muito o planejamento. Quem vende produtor importados, por exemplo, não pode começar o dia com o dólar a R$ 4,00 e terminar com a moeda a R$ 8,00”, explica.
Do ponto de vista do crescimento econômico, Saraiva aponta que o ano de 2022 deve terminar com um crescimento de 2,80%, convergindo para 0,80% em 2023. “É um crescimento modesto, que não é ruim, mas também não gera muito entusiasmo. Em termos de volume produzido, o Brasil ainda se encontra no mesmo nível de aproximadamente dez anos atrás”, pondera.
Quanto a taxa básica de juros, Saraiva acredita que deva ficar entre 11% e 11,5%, e prevê uma perspectiva mais lenta nos níveis de emprego. Ele não vê lógica em previsões alarmistas e não enxerga possibilidade de nenhum tipo de bloqueio de bens ou troca de moeda, como chegaram a alardear alguns rumores.
Foco em 2023
O conselho de Flavio Saraiva para 2023 é que as pessoas sejam mais conservadoras do ponto de vista financeiro. Ele acredita que as turbulências político-econômicas devem se arrefecer e a bolsa de valores deve ter ganhos. “Não é preciso sair comprando dólares, ouro ou pensar em mudar de país. Não há motivos para pânico”, conclui.
O consultor em gestão para a Odontologia, Plínio Tomaz, analisa que como a ideologia política do novo Governo é oposta à da maioria dos senadores e deputados federais, o novo presidente deve aprovar até com certa facilidade algumas pautas sociais e trabalhistas, que realmente representem um benefício para a população, mas terá bastante dificuldade em avançar com pautas como a reforma tributária, por exemplo. “Ele pode até conseguir fazer uma reforma tributária, mas terá que fazer tantas negociações para tirar isso do papel, já que ela não estará mais tão alinhada com o que o Governo anseia”, diz Tomaz.
Outro cenário que o especialista aponta é sobre a reforma trabalhista. Ele analisa que o novo governo não é completamente favorável ao regime das Microempresas Individuais (MEI), defendendo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como regime ideal. “Qualquer decisão nesse sentido também afeta a reforma tributária”, pontua, observando que a maioria dos outros países adoram regimes mais flexíveis, que nem oneram o empregador e nem prejudicam o trabalhador. “Acredito que o caminho do meio seja o mais coerente para esta questão. A diferença está nas formas de negociação entre patrões e empregados. É preciso educar ambos os lados para os novos modelos de contratação”, opina.
Tendências para a Odontologia
Analisando especificamente o mercado odontológico, Tomaz diz que durante a pandemia muitos consultórios fecharam. Com isso, muitos cirurgiões-dentistas perceberam que o custo dos consultórios era muito alto, e uma das soluções encontradas foi partir para o coworking, os espaços compartilhados, preferindo transformar o custo fixo em variável. “Essa tendência deve se manter e aumentar ainda mais, caso a legislação trabalhista volte para o modelo antigo”, afirma.
Plínio Tomaz acredita que as tensões e incertezas causadas pela polarização política tendem a se acalmar e se equilibrar durante 2023. “Do ponto de vista de emprego, acredito que o País vai continuar melhorando. Isso se reflete também em uma maior estabilidade econômica em cenários positivos”, diz, apontando também que as relações internacionais do País tendem a ocorrer positivamente.
O consultor cita dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que prevê um crescimento de 2% para o país, sendo que o setor de serviços deve crescer apena 1%, e que um dos setores que deve apresentar maior crescimento é o agronegócio. “Isso significa que os lugares aonde o agronegócio é mais forte devem vivenciar um crescimento da economia local, e isso se reflete diretamente no mercado odontológico dessas regiões, que também deve ficar mais aquecido”, analisa Tomaz, dizendo que esse crescimento não é linear.
“Enquanto algumas regiões serão mais promissoras para a Odontologia, outras devem passar por quedas no movimento. Isso independe de quem está no comando do Governo. É uma regra do mercado”, finaliza o consultor