A alta tecnologia passou a fazer parte da rotina clínica dos cirurgiões-dentistas nos mais diversos procedimentos da Odontologia. Entenda seu estágio atual, as aplicações mais comuns e os próximos passos do uso da IA nos consultórios.
A inteligência artificial é um dos termos mais comentados do momento. Seja nas mídias sociais, na imprensa ou no debate popular, a tecnologia já é considerada por muitos como um divisor de águas entre passado e futuro. Apesar de ser um grande avanço, que pode abrir portas para o desenvolvimento da humanidade, também é temida por alguns como a tecnologia que veio roubar empregos e destruir profissões.
A discussão sobre a presença da inteligência artificial no cotidiano ganhou ainda mais força depois da popularização do ChatGPT, um programa de computador que simula e processa conversas humanas, com respostas para os mais variados temas. No entanto, várias ferramentas tecnológicas com inteligência artificial já fazem parte do nosso dia a dia há muito tempo, como os aplicativos de GPS, os serviços de streaming, como Netflix e Spotify, e os assistentes virtuais, como a Siri, o Google Assistente e a Alexa.
Agora, com a popularização do debate sobre a inteligência artificial, o imaginário humano se divide entre aqueles que se sentem ameaçados com os mais recentes avanços da tecnologia e aqueles que enxergam novas e promissoras oportunidades com os impulsos alcançados pela ciência da computação para todas as áreas. E como isso tudo impacta a Odontologia?
A Sorrisos Brasileiros conversou com especialistas de diversas áreas odontológicas que mostram que o que estamos conhecendo agora como inteligência artificial é o resultado de um caminho que começou a ser trilhado há pelo menos 15 anos. Eles desmistificam o termo, comprovando que o ser humano sempre será a peça fundamental por trás de todo avanço tecnológico, e garantem que a inteligência artificial veio para promover um salto qualitativo para a profissão, tornando os processos mais precisos, acessíveis, rápidos, rentáveis e com o valor agregado de sustentabilidade, outro conceito que marca nossa evolução como sociedade.
Definição e os cérebros por trás da IA
A inteligência artificial, comumente conhecida como IA, refere-se à simulação da inteligência humana em máquinas programadas para executar tarefas que normalmente requerem habilidades cognitivas humanas. É um campo de ponta da ciência da computação que visa permitir que as máquinas percebam, raciocinem, aprendam e se adaptem, da mesma forma que a mente humana opera. Em sua essência, a IA permite que as máquinas processem grandes quantidades de dados, reconheçam padrões e tomem decisões, tornando-as cada vez mais autônomas e capazes de resolver problemas complexos sem intervenção humana constante.
A busca pela IA tem sido impulsionada pelo desejo de alcançar a inteligência artificial geral (AGI), o que implicaria em máquinas possuindo o mesmo nível de habilidades cognitivas que os humanos. Embora os avanços sejam significativos no desenvolvimento da IA, alcançar a AGI continua sendo um grande desafio. Atualmente, a maioria dos sistemas de IA é projetada para se destacar em tarefas específicas, conhecidas como narrow AI (IA estreita) ou weak AI (IA fraca).
Um componente-chave que alimenta o crescimento da IA é o aprendizado de máquina (machine learning). Esse ramo da IA permite que as máquinas aprendam com a experiência e melhorem seu desempenho ao longo do tempo sem serem explicitamente programadas para cada cenário. Ao alavancar dados e algoritmos sofisticados, o aprendizado de máquina permite que os sistemas de IA se adaptem e evoluam, levando a recursos cada vez mais sofisticados. Na Odontologia, esse movimento é bastante evidente. As atualizações dos softwares de equipamentos como escâneres intraorais, impressoras 3D e fresadoras, entre outros, são feitas a partir dos dados inseridos pelos profissionais em cada planejamento. O sistema “aprende” os padrões utilizados e, a partir dessas informações, aprimora suas entregas, também fornecendo novos parâmetros aos desenvolvedores para futuras versões.
A IA no dia a dia da Odontologia
“É um tremendo equívoco essa visão de que a inteligência artificial vai diminuir a oferta de trabalho para as pessoas. Surgirão novas profissões, e até mais nobres, mas sempre com a participação do ser humano, que nunca será descartado nesse processo”, opina o cirurgião-dentista Sergio Meiga, do Rio de Janeiro, especialista em Reabilitação Oral e um dos nomes mais respeitados quando o assunto é Odontologia Digital.
Meiga atribui ao Sistema Cerec a entrada da Odontologia na era digital, quando foi criado o modo de design de restaurações chamado biogenérico, em que o software analisa os padrões remanescentes na estrutura bucal dos pacientes para construir uma proposta de reabilitação compatível. “Isso aconteceu por volta de 2008. Já era inteligência artificial, ainda que não se dava esse foco para o termo IA, mas representou um grande avanço nesse sentido”, afirma.
O especialista aponta que a Odontologia era uma profissão puramente analógica e manual antes da IA e, ainda hoje, muitas pessoas continuam trabalhando dessa forma. “Isso acontece por resistência ou por zona de conforto, talvez, mas a Odontologia analógica tem como ser qualitativa sempre. Foi de lá que viemos. Mas penso que o digital, hoje, traz muitas vantagens”, pondera.
Sergio Meiga aponta que a inteligência artificial veio para reforçar os benefícios que já vinham sendo colhidos pelo fluxo digital. “O ser humano tem seus dias bons e ruins, a IA não; ela consegue ser constante. Isso permite um controle do ambiente de maneira a reduzir erros, aumentar a taxa de acertos e melhorar os resultados”, analisa.
Segundo ele, não é impossível existir Odontologia sem os processos digitais, mas quem demorar ou resistir à digitalização pode ser penalizado por ter que assistir as facilidades e benefícios que outros profissionais estão colhendo.
Custo e acesso ao digital
Um argumento comum de grande parte dos profissionais como dificuldade de migrar para os processos digitais é o alto custo dos equipamentos. É provável que o aumento da oferta de produtos e a variedade de marcas façam com que os valores fiquem mais acessíveis, além da possibilidade de surgirem novas formas de financiamento e de facilidade de negociação. Neste cenário, é possível dizer que os aparelhos digitais nunca serão baratos, mas os profissionais que já trabalham com esse fluxo consideram que esse não seja um fator que impeça a migração do analógico para o digital.
O ganho de tempo na realização dos procedimentos, possibilitando atender mais pacientes por dia, é uma vantagem comum apontada por todos os cirurgiões-dentistas que trabalham com fluxo digital.
“Quando eu comecei a trabalhar com os processos digitais, durante um bom tempo na minha curva de aprendizado eu nem precisei reajustar os valores dos meus orçamentos para, de alguma forma, compensar o investimento realizado, pois o digital me dava essa sobra de tempo, que também abriu mais espaços na minha agenda para aumentar o número de pacientes atendidos. Uma coisa compensa a outra”, relata Sergio Meiga.
A implantodontista Isabela Bezerril, de São Paulo, que se define como uma profissional totalmente voltada para as novas tecnologias, diz utilizar todos os recursos digitais disponíveis para o planejamento das reabilitações orais de seus pacientes sem ter adquirido nenhum equipamento digital. “Não comprei e não pretendo comprar”, afirma Isabela, dizendo que trabalha em parceria com empresas que realizam o escaneamento de seus pacientes, a auxiliam no planejamento e preparam as próteses dentárias, de forma que ela possa se dedicar ao processo cirúrgico com o qual se identifica mais e para o qual sente ter mais aptidão e talento. “Eu estudo, faço cursos e me preparo muito para saber utilizar todas as ferramentas. Dessa forma, consigo discutir ideias com meus parceiros nos planejamentos, mas não sinto necessidade de ter essa infraestrutura própria em minha clínica. Utilizo todos os benefícios do fluxo digital, que trazem maior precisão e assertividade ao processo cirúrgico, que é o que eu gosto de fazer”, relata.
Os especialistas também indicam que a migração do analógico para o digital não implica somente em adquirir equipamentos, softwares e aprender a usá-los. “Cada cirurgião-dentista tem que saber analisar o que faz sentido dentro de sua realidade de trabalho. Não há uma regra comum a todos. Para alguns, pode compensar o investimento em uma estrutura própria de digitalização dos processos. Outros podem entender que a terceirização seja o melhor caminho.
Sergio Meiga observa, ainda, que a própria evolução rápida da tecnologia já tem colocado equipamentos seminovos e em perfeitas condições de uso no mercado, o que também se apresenta como mais uma possibilidade de acesso a esses aparelhos, principalmente para os profissionais que desejam iniciar seus procedimentos no fluxo digital e com um custo menor.
Migração para o digital
“O primeiro passo que qualquer cirurgião-dentista deve dar para iniciar a digitalização dos processos é entender qual é seu perfil de atendimento e qual é o fluxo de trabalho com o qual ele deseja se envolver”, indica Sergio Meiga.
O profissional aponta que alguns sistemas têm fluxos restritos, enquanto outros oferecem fluxos completos. “É comum vermos profissionais iniciando essa migração para o digital por influência de amigos, por convencimento de algum vendedor ou porque uma pessoa de referência na profissão utiliza o sistema, mas não chega a analisar se ele próprio se encaixa no mesmo perfil e se o fluxo de trabalho dessas pessoas é semelhante ao seu. Mais tarde, essa pessoa pode carregar algum arrependimento ou até chega a pensar em vender os equipamentos adquiridos. Por isso, o melhor a fazer é conhecer bem sua realidade de trabalho e até onde deseja se envolver na digitalização dos processos”, aconselha Meiga.
O especialista recomenda também que o cirurgião-dentista pesquise entre as diversas marcas, explique seu perfil de atendimento e analise o que o mercado oferece e que se encaixe melhor em sua rotina de atendimentos.
Do analógico à inteligência artificial
Sergio Meiga aponta que os primeiros sistemas desenvolvidos serviram especificamente aos profissionais que trabalhavam com restaurações, que precisavam conceber restaurações cerâmicas rápidas e acessíveis. “Com o tempo, houve o envolvimento de mais pessoas e mais cabeças pensando nessa evolução, e outras especialidades foram encontrando soluções mais eficazes nos processos digitais, como a Periodontia, a Ortodontia e a Odontopediatria. A Dentística já começou no fluxo digital, e os cirurgiões bucomaxilofacial e os implantodontistas nos planejamentos de cirurgias guiadas por meio de softwares. Hoje em dia, eu não saberia citar alguma especialidade que não se beneficie dos fluxos digitais”, afirma.
A cirurgiã-dentista Andrea Sales do Prado Godoy, de São Paulo, especialista em Endodontia e Odontologia Estética, pós-graduada em Odontologia Digital e mestra em Educação, explica a digitalização dos processos a partir de uma linha do tempo que marca o início da tecnologia embarcada nos equipamentos até o momento do uso da inteligência artificial na Odontologia.
“Nunca vivemos uma época tão impactante como agora, no que se refere à relação entre a tecnologia e a Odontologia, com muitas oportunidades quando consideramos o que a inovação pode fazer pelos cirurgiões-dentistas nas rotinas do consultório”, afirma Andrea.
Pontuando a diferença entre os termos “inovação” e “novidade”, Andrea define a inovação como o surgimento de novas soluções para novos problemas. Apesar de ser pós-graduada em Odontologia Digital, ela não considera esse termo plural e prefere definir os procedimentos como soluções tecnológicas para novas demandas interconectadas. “Toda essa história da tecnologia na Odontologia não é uma moda ou uma novidade. É uma mudança de paradigma porque apresenta soluções que vão melhorar qualitativamente todas as ferramentas de trabalho para o paciente e para o cirurgião-dentista”, diz.
Em sua experiência, Andrea estabeleceu um conceito chamado Odontologia 5.0, que foi inspirado na sociedade 5.0, desenvolvida no Japão em 2016, pensada para melhorar os processos e a vida das pessoas qualitativamente, aliada a parâmetros de sustentabilidade, interconectividade e smart cities (cidades inteligentes), entre outros. A ideia é olhar para a tecnologia como uma ferramenta que pode melhorar a rotina dos processos na Odontologia. “Para que isso aconteça, é preciso que os colegas cirurgiões-dentistas se envolvam com essa temática, entendendo toda essa vitrine de possibilidades que nos são oferecidas, principalmente nos congressos”, diz Andrea, que considera importante que o profissional tenha pleno conhecimento dessas tecnologias para avaliar se fazem sentido para sua rotina clínica, para seus pacientes e seu modelo de negócio.
A especialista ressalta outros valores agregados aos benefícios da tecnologia, citando um aparelho de raio X digital como exemplo. De acordo com ela, quando é possível substituir um modelo de processamento radiográfico da forma convencional – em que são utilizados produtos químicos para os quais não há um descarte formalmente estabelecido e que podem gerar contaminação ao serem descartados no esgoto, agredindo o meio ambiente – por um processamento digital assume-se um papel importante diante da sustentabilidade do planeta. Além disso, ela ressalta o menor tempo de exposição do paciente e do próprio profissional à radiação. “Apenas com essa mudança, já podemos perceber um ganho de tempo, de biossegurança, de sustentabilidade e de qualidade de vida para o paciente, além de obtermos uma imagem com uma qualidade muito melhor”, destaca. Andrea indica que antes de pensar em chegar no uso da inteligência artificial propriamente dita, começando pela digitalização de alguns processos, o profissional vai criando rotinas de aprendizado e mapas conceituais em sua mente, acrescentando novos processos de acordo com sua realidade de trabalho.
Atualmente com uma clínica 100% digital, Andrea explica que chegou a esse patamar ao longo de alguns anos, eliminando aos poucos todas as formas de utilização de papéis. “Nossa comunicação é totalmente digital, desde o agendamento até os prontuários. Isso trouxe muita agilidade e eficácia, além de contribuição com o meio ambiente”, detalha. Ela considera a aquisição do escâner intraoral como um divisor de águas para os processos digitais em sua clínica. “O equipamento já vem com uma tecnologia embarcada que permite um processo dinâmico e contínuo, em que as empresas vão aplicando atualizações a partir dos planejamentos que fazemos. O equipamento já possui uma IA embarcada que nos ajuda, facilitando os processos no momento do escaneamento”, explica.
A especialista destaca o processo mútuo de aprendizado – machine learning – em que o equipamento ensina ao cirurgião-dentista, mostrando situações, detalhes e posicionamentos que antes não eram possíveis, ao mesmo tempo em que aprende com as necessidades do profissional, facilitando os caminhos dos planejamentos a partir dos dados inseridos no sistema. A economia de tempo é outra característica ressaltada na utilização das tecnologias digitais. “Tempo não é só dinheiro, é vida”, afirma Andrea. Em sua clínica, com a utilização de ferramentas como o escâner digital, a impressora 3D e a fresadora, ela consegue estabelecer um conceito de unique visit (visita única), com entrega em sessão única, principalmente de dentes unitários. “Procedimentos que antes duravam sete consultas, hoje consigo concluir em três horas”, afirma, pontuando também a importância do constante investimento na sua formação e na educação continuada para o desenvolvimento do senso crítico e da formação técnica.
A tecnologia e as especialidades
Se no início dos processos digitais a tecnologia foi principalmente utilizada para os procedimentos de restauração, hoje não há nenhuma área da Odontologia que não seja beneficiada pelos avanços e inovações tecnológicas. Algumas especialidades, inclusive, só surgiram a partir dos processos digitais e IA embarcada nos equipamentos, como é o caso da Harmonização Orofacial. Outras tiveram grandes saltos qualitativos.
A ortodontista Elaine Rós, de São Paulo, conta que começou a se aprofundar nos estudos sobre as novas tecnologias em 2015. Três anos depois, passou a utilizar os alinhadores transparentes em sua prática profissional. “Fiz cursos extensos e ouvi a opinião de muitos colegas e professores até adquirir confiança suficiente para trabalhar com os alinhadores. Quando me senti com uma bagagem maior de conhecimento, comprei um escâner intraoral”, conta.
Elaine tem sua clínica no bairro de Pirituba, região da periferia de São Paulo, o que a tornou um exemplo para diversos outros profissionais, mostrando que a curva de aprendizado correta e um planejamento assertivo para os investimentos em tecnologia possibilitam exercer uma Odontologia de qualidade em todos os lugares, independentemente de padrão social. “Um dos grandes diferenciais que a IA possibilita é fazermos uma simulação do resultado final do tratamento para apresentar ao paciente. Os algoritmos de inúmeros casos anteriores alimentam o sistema, de forma que o computador possa mostrar esse resultado com maior previsibilidade”, explica.
Elaine explica que o sistema utilizado para fazer o planejamento dos alinhadores oferece uma quantidade de dados que antigamente não era possível. “Por exemplo, temos uma tabela de movimentação dentária que tem sete movimentos de coroa de dente e mais seis movimentos de raiz. Com isso, podemos calcular os graus de movimento de cada dente e determinar quais são os limites ósseos da movimentação dentária. Antigamente, muitas vezes tínhamos que corrigir movimentações depois que apresentavam um resultado não satisfatório, o que aumentava muito o tempo de tratamento e expunha o paciente a mais sofrimento”, detalha.
A cirurgiã-dentista Monique Fangueiro, de Paranaguá (PR), atua em Reabilitação Estética e é responsável por toda a parte de planejamento dos tratamentos de sua clínica de atendimento multidisciplinar. Ela iniciou a digitalização dos processos com a aquisição de um aparelho de raio X panorâmico digital, e hoje, juntamente com o marido, que é cirurgião bucomaxilofacial, tem uma clínica de Radiologia, além do consultório odontológico. De acordo com Monique, a clínica radiológica foi a primeira a utilizar tomógrafos intraorais e atualmente está equipada com todos os recursos de alta tecnologia, atendendo uma demanda não apenas da cidade, mas de toda a região.
“Nós, como cirurgiões-dentistas clínicos, já éramos clientes do nosso próprio centro de Radiologia. Nossos pacientes faziam os escaneamentos na clínica radiológica e nós recebíamos as imagens para fazer os planejamentos. A partir daí, percebi que, tendo uma impressora, poderíamos executar alguns trabalhos dentro da própria clínica. Então, adquirimos uma”, conta Monique, dizendo que todos os trabalhos são realizados dentro da clínica, com exceção de próteses protocolo, garantindo um grande ganho de tempo para as entregas.
Com a estrutura montada, Monique também passou a oferecer cursos de capacitação para cirurgiões-dentistas da região que estão migrando para os processos digitais. Esse cenário mostra um movimento da alta tecnologia na Odontologia, ultrapassando as fronteiras das capitais e grandes centros urbanos, e se expandindo para as cidades do interior dos estados, permitindo o acesso cada vez maior de pessoas de todas as regiões do País à Odontologia Digital.
A especialista em Reabilitação Estética e Funcional Fernanda Vitalle, de São Paulo, relembra que há 25 anos, quando se formou, sua especialidade nem era abordada na graduação. Os procedimentos ainda eram analógicos, com moldagem, envio para o laboratório e uma espera de pelo menos uma semana, quando não havia atrasos.
“Essa demora causava muita frustração aos pacientes e também atrapalhava a rotina do consultório”, diz, observando ainda que o produto entregue nem sempre condizia com o planejamento solicitado por ela, invariavelmente ocasionando desconforto aos pacientes no uso. “No início, minha principal motivação para migrar para o fluxo digital foi a possibilidade de ter controle sobre todo o processo, sem depender de um terceiro que nem sempre tem a mesma filosofia de tratamento”, diz Fernanda.
A migração para os processos digitais possibilitou à Fernanda realizar atendimentos em visita única, em que os pacientes já saem do consultório com a prótese fixa em três a quatro horas. Ela ressalta a longa curva de aprendizado que teve que cumprir para chegar a esse patamar, além das atualizações constantes, mas destaca que só teve vantagens na rotina de sua clínica.
Odontologia integrativa
Andrea Sales observa que, cada vez mais, torna-se importante que o cirurgião-dentista tenha conhecimento sobre todas as especialidades, principalmente no uso das novas tecnologias, apesar da importância das especializações. “Não há uma tecnologia específica para cada área da Odontologia. É uma equipe multidisciplinar trabalhando com as mesmas tecnologias, com utilizações específicas para os procedimentos guiados”, aponta, dizendo que, mesmo que uma clínica não tenha profissionais de todas as especialidades, é possível e comum que os profissionais trabalhem juntos sobre um mesmo planejamento até estando em cidades ou países diferentes. “A tecnologia nos trouxe liberdade de escolha sobre qual o melhor procedimento para cada paciente e com quais profissionais podemos trabalhar em conjunto para cada caso. Quando olhamos para todo esse universo de possibilidades, os processos se tornam muito mais interessantes”, relata Andrea.
De acordo com a especialista, a tecnologia permite que Odontologia seja guiada por caminhos seguros, com previsibilidade, segurança e rapidez, desde que se siga os passos corretos. “A tecnologia nos dá a possibilidade de validar um planejamento antes de tocar no paciente para iniciar o tratamento. Hoje, a Odontologia não tem surpresas”, afirma. Andrea destaca que todas as nuances que a IA pode desenvolver para a Odontologia não funcionam como mágica. “O responsável por todo o processo é o cirurgião-dentista, juntamente com sua equipe. Todas as especialidades continuam definindo uma Odontologia que necessita do conhecimento do profissional para decidir se aceita ou não a proposta oferecida pela inteligência artificial embarcada nos equipamentos”.
Capacitação
A curva de aprendizado para migração do sistema analógico para o digital é um fator mencionado por todos os especialistas entrevistados como a ação de maior importância nesse processo. Ainda que as marcas ofereçam cursos e treinamentos para a utilização dos equipamentos, a capacitação para os processos digitais vai muito além desse conteúdo. “É preciso procurar cursos ministrados por especialistas experientes e que tenham uma bagagem rica em conteúdo. A curva de aprendizado de qualquer tecnologia depende muito da dedicação de cada um”, diz Sergio Meiga, apontando que os professores de todas as áreas da Odontologia também tiveram que se digitalizar para estarem aptos a lecionar, tanto nos cursos de graduação como de pós-graduação.
Outra característica apontada por todos os especialistas entrevistados – e pela maioria dos cirurgiões-dentistas que aderiram às novas tecnologias em seus procedimentos – é a democratização do conhecimento. Todos têm consciência de que a curva de aprendizado é constante, uma vez que as inovações trilham um caminho infinito.
Nesse contexto, a troca de informações entre os profissionais é aberta e intensa. Todos afirmam que o compartilhamento de conhecimento e experiências é uma prática comum entre os especialistas na Odontologia Digital, pois isso leva ao avanço e desenvolvimento de novas tecnologias e à adesão de novos cirurgiões-dentistas aos processos digitais.
A inteligência artificial é inegavelmente uma das inovações tecnológicas mais transformadoras do nosso tempo. Ao aproveitar o poder da IA, é possível resolver desafios complexos, revolucionar a indústria e liberar todo o potencial da engenhosidade humana. No entanto, é crucial que abordemos essa tecnologia com senso de responsabilidade e visão, garantindo que a IA se torne uma força para o bem, beneficiando a humanidade como um todo. À medida que o impacto da IA continua a se desdobrar, entender seus fundamentos é o primeiro passo para se envolver com esse campo empolgante e em constante evolução, inclusive para a Odontologia.