DTM: dores orofaciais que levam ao consultório

DTM: dores orofaciais que levam ao consultório

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Pandemia fez os profissionais de Odontologia registrarem aumento nas ocorrências de disfunção temporomandibular (DTM). Conheça sintomas e tratamentos.

A disfunção temporomandibular (DTM) é definida pela Associação Americana de Pesquisas Odontológicas como um grupo de condições musculoesqueléticas e neuromusculares que envolvem, de forma patológica, as articulações temporomandibulares (ATM), músculos mastigatórios e tecidos associados.

Considerada uma das maiores causas de dores orofaciais, a DTM é uma condição complexa e de tratamento multidisciplinar. Ela pode ter causas físicas ou emocionais, provocadas por diversos fatores, que vão desde hábitos alimentares e comportamentais, até características ortopédicas ou ortodônticas

De acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 40% da população sofre com esse problema, com maior incidência entre os 20 e os 40 anos de idade, havendo uma prevalência maior entre as mulheres, em uma proporção de 2:1.

O ortodontista José Antônio Bueno Júnior, de Campinas (SP), explica que atualmente os sintomas de DTM são também associados ao bruxismo. “O problema não tem cura e é cíclico. É preciso investigar quais fatores deflagam a condição e buscar acompanhamento odontológico, além de psicológico, fisioterapêutico e de outras especialidades”, informa.

A pandemia de Covid-19 fez com que os consultórios odontológicos registrassem um importante aumento de casos de bruxismo. Assim, as ocorrências de disfunção temporomandibular também passaram a ser vistas com mais frequência pelos cirurgiões-dentistas.

O especialista diz que a Odontologia atua na causa das dores geradas, em geral, pelo apertamento da mandíbula. No entanto, para descobrir a origem, é preciso contar com a avaliação de profissionais de diversas áreas.

Dores de cabeça, musculares e zumbido no ouvido são os desconfortos mais relatados pelos pacientes que sofrem com a DTM. Segundo Bueno Júnior, os tratamentos disponíveis podem aliviar até 90% da dor, garantindo mais qualidade de vida aos pacientes.

Ele destaca três formas de tratamento que têm sido mais eficazes no alívio das dores. “Há nódulos que se formam nos músculos da face que envolvem a ATM e que são chamados de ponto-gatilho. O objetivo dos tratamentos é desfazer o processo inflamatório desses nódulos, tratando a dor ocasionada por eles”, detalha.

Os tratamentos indicados por Bueno Júnior são:

Agulhamento a seco: consiste na introdução de uma agulha bem fina, como de acupuntura, no ponto-gatilho. Esse procedimento gera uma espécie de inflamação no nódulo, provocando o mecanismo de defesa no corpo, que age sobre o ponto-gatilho, diminuindo as dores.
O ideal é fazer dez sessões, mas 90% dos casos já têm melhora na sintomatologia de dor na primeira sessão. Pode ser um pouco dolorido quando a agulha atinge o nódulo. A resposta ao tratamento é mais rápida.

Tens: aparelho para aplicação de impulsos elétricos na pele do paciente. Eles estimulam atividades do sistema, provocando uma ação analgésica, vasodilatadora, redução de inchaços e incentivo à cicatrização.

Laserterapia: laser de baixa intensidade é o mais aceito pelos pacientes, pois muitas pessoas têm medo de agulha. A aplicação causa analgesia e relaxamento muscular.

Bueno Júnior recomenda que qualquer tratamento para DTM tenha acompanhamento constante, já que não é possível afirmar que exista uma cura definitiva para essa condição. Mas, de acordo com o profissional, a melhora normalmente é perceptível. “As intervenções trazem resultados muito positivos. Tenho pacientes que iniciaram com acompanhamento a cada três meses, depois passaram para cada seis meses e hoje estão há dois anos sem crises”, conta.

Ele finaliza alertando que, além de problemas congênitos, emocionais ou comportamentais que podem desencadear a DTM, um tratamento ortodôntico mal planejado também pode se tornar causa de dores nas articulações temporomandibulares.

A cirurgiã-dentista Katia Blume, de Novo Hamburgo (RS), aponta que apesar de haver uma relação direta entre DTM e bruxismo, não é possível afirmar, obrigatoriamente, que quem sofre de bruxismo vai desenvolver uma disfunção temporomandibular ou vice-versa.

“Trauma, pré-disposição genética, ansiedade e depressão são também causas de bruxismo e DTM”, afirma a especialista em Prótese Dentária e Implantodontia, lembrando o aumento de casos destas condições durante a pandemia de Covid-19, comprovados por estudos clínicos.

Ela explica que a DTM pode ser muscular ou articular. O primeiro caso está mais relacionado ao bruxismo, quando o paciente coloca toda a força da mordida nos músculos da mastigação. “Nesses casos, a placa de bruxismo costuma ser o tratamento mais recomendado, para que, afastando os dentes, isso provoque um relaxamento dessa musculatura”, diz Katia.

A especialista pondera, no entanto, que no caso de pessoas que além do bruxismo sofrem de outros distúrbios do sono como ronco e apneia, a placa pode não ser o tratamento mais recomendado, já que pode acentuar os outros problemas. “A aplicação de botox e a fisioterapia também são técnicas utilizadas para o relaxamento da musculatura mandibular”, complementa.

Katia chama atenção para os casos de bruxismo em vigília – quando ocorre o apertamento dos dentes quando a pessoa está acordada –, ressaltando que o problema não se configura apenas quando o paciente aperta os dentes com força, mas o simples fato de ficar com os dentes encostados já é um tipo de bruxismo e que pode acarretar em desgaste nos dentes e DTM. “O ideal é manter uma distância de pelo menos três milímetros entre os dentes de cima e de baixo quando a boca está fechada”, afirma.

Quando a DTM é causada por tensão articular, normalmente é decorrente de traumas, desgaste ou doenças degenerativas, com possíveis lesões de ligamento. Katia diz que o diagnóstico é feito por exames de imagem, como ressonância magnética e tomografia.

Segundo ela, quando a DTM articular tem um grau leve, a placa de bruxismo também pode ser utilizada no tratamento. E, quando há um desgaste muito severo do disco, pode-se fazer uma artocentrese, em que é feita uma lavagem das articulações por meio de agulhas, ou um procedimento cirúrgico corretivo nos casos mais graves.

Katia ressalta a importância de uma anamnese completa, em que o paciente com DTM normalmente relata sintomas de dores musculares na região do pescoço e trapézio, cefaleias, zumbidos no ouvido. “Muitas vezes, a própria correção ortodôntica ou a colocação de implantes de dentes que faltam já pode corrigir um problema de oclusão que esteja causando a DTM. Mas, se isso não for suficiente, temos que avaliar qual método melhor se aplica para o tratamento desse paciente”, pontua.

De acordo com a especialista, a ATM é a articulação mais complexa do corpo humano, com movimentos em vários sentidos e a única parte que tem os lados esquerdo e direito interligados. “Todo nosso sistema depende de uma boa mastigação, por isso, ao menor sinal de dor ou desconforto, deve-se buscar tratamento porque no início é bem mais simples”, finaliza.