Coworking na Odontologia: um mercado em expansão

Coworking na Odontologia: um mercado em expansão

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O compartilhamento de espaço tem sido uma das soluções para a redução de custos na rotina clínica de cirurgiões-dentistas.

Isolamento, custos elevados, necessidade de networking, falta de flexibilidade, de comunicação e mobilidade geográfica. Essas foram algumas das razões que motivaram o desenvolvimento do coworking, um modelo de espaço de trabalho compartilhado, onde profissionais e pequenas empresas utilizam um espaço de trabalho comum, com salas de reunião, cozinha, áreas de descanso e equipamentos de escritório compartilhados.

Essa nova realidade, antes limitada para empresas de setores mais tradicionais da economia, evoluiu e chegou até a área da Saúde. Assim, o mercado de coworking em Odontologia vem crescendo no Brasil e atraindo cada vez mais profissionais que encontram uma oportunidade de otimização de tempo e custos para a prática da profissão nesse formato, apostando no compartilhamento do espaço de trabalho e de determinados equipamentos com outros profissionais de Odontologia, em vez de investir para adquirir ou alugar um consultório independente.

O modelo de coworking em Odontologia geralmente envolve um escritório compartilhado ou até um espaço clínico, com salas ou cabines individuais de tratamento, onde os cirurgiões-dentistas podem reservar um horário para atender os pacientes. Este modelo pode ser particularmente atraente para profissionais novos, recentemente formados, ou independentes, que procuram economizar em despesas gerais ou que não tenham pacientes suficientes para justificar a propriedade ou locação de sua própria clínica.

No Brasil, há diversas empresas que oferecem espaços de coworking para profissionais da Odontologia, fornecendo escritórios compartilhados com salas de tratamento totalmente equipadas, bem como suporte administrativo, marketing e serviços de gerenciamento de pacientes.

Os cirurgiões-dentistas que utilizam espaços de coworking normalmente pagam uma taxa mensal ou alugam conforme a necessidade para acesso ao espaço e equipamentos. O modelo de coworking também pode oferecer outras vantagens, como a oportunidade de realizar networking e colaboração com outros profissionais da Odontologia, bem como acesso a programas de educação e treinamento contínuos.

Pesquisas realizadas sobre a tendência crescente do coworking na Odontologia no Brasil apontam que a redução de custos, gerenciamento da prática odontológica e a oportunidade de colaboração com outros profissionais da área são os fatores que mais têm atraído os cirurgiões-dentistas para essa modalidade de negócio.

Um estudo publicado no Journal of Contemporary Dental Practice, em 2021, pesquisou cirurgiões-dentistas na cidade de Recife (PE) para investigar suas percepções sobre o trabalho conjunto na Odontologia. O estudo constatou que uma porcentagem significativa desses profissionais estava ciente do coworking e interessada em usar esses espaços para reduzir custos e melhorar a gestão de sua prática.

Outro estudo publicado no Brazilian Journal of Health Review, em 2019, examinou os fatores que influenciam a adoção do coworking na Odontologia no País. O trabalho constatou que as principais motivações para os dentistas adotarem o coworking foram a redução dos custos indiretos, o aumento da flexibilidade em seus horários de trabalho e o networking com outros profissionais.

A digitalização do coworking

O cirurgião-dentista Maurício Querido, de São Paulo, formado há mais de 30 anos, enxergou uma nova possibilidade para o coworking, utilizando a tecnologia como principal aliada para conectar profissionais que oferecem e buscam espaços de compartilhamento.

Assim, ele criou a plataforma digital DocWorking, por meio da qual os cirurgiões-dentistas podem disponibilizar cadeiras e equipamentos de seus consultórios e clínicas, abrindo horários de agendamento para utilização desses espaços, que são reservados e pagos antecipadamente.

“Desde que comecei minha carreira como cirurgiãodentista, percebi que meu consultório não era uma empresa, mas eu mesmo era. E passei a atuar não apenas como um clínico da Odontologia, mas também como um gestor”, conta Querido.

Viajando para fora do País, o especialista conheceu o sistema tradicional de coworking e passou a pensar em como poderia trazer esse formato de negócio para o Brasil. “Não havia regras definidas e nem modelos de contrato. Então, comecei a criar um método que viabilizasse o coworking de maneira segura, primeiramente na minha clínica, onde já faço isso há cerca de 14 anos”, diz.

Por volta de 2014, Querido começou a imaginar uma maneira de estender o coworking para um formato de plataforma digital, e assim foi criada a DocWorking, que também atende outras especialidades na área de Saúde, além da Odontologia. O cirurgião-dentista conta que iniciou de forma simples, criando o site no sistema WordPress, que é um mecanismo aberto de gestão de conteúdo para a internet, utilizado principalmente para a elaboração de websites e blogs on-line.

Conversando com diversos colegas de profissão, que já o consideravam uma referência na área de coworking para a Odontologia, Maurício Querido começou a perceber que a maioria compartilhava das mesmas dúvidas e incertezas sobre o processo. “A questão da segurança era um dos pontos de maior preocupação dos profissionais”, esclarece, não se referindo apenas à questão sobre locar o espaço para pessoas desconhecidas, mas também no que diz respeito a situações comportamentais, que muitas vezes levavam a situações de fragilidade ou até constrangimento entre colegas de profissão, inclusive sobre as negociações comerciais.

Querido menciona que o Indicador Tomaz, uma das principais referências em medição de desempenho na Odontologia, aponta que o Brasil tem cerca de 39% de ociosidade de sala nos consultórios e clínicas odontológicas, o que pode significar mais de um terço do horário de atendimento.

“Uma vez que o profissional investiu capital para montar um consultório, ele se torna uma microempresa e tem que gerar lucros. Ficar parado é um desperdício de dinheiro. E o coworking funciona no sentido de permitir que as clínicas ou consultórios possam rentabilizar sobre esses horários ociosos”, define Maurício.

No final de 2019, o empresário passou a investir em mudanças e modernização da sua plataforma digital, incluindo recursos avançados de programação que pudessem oferecer mais recursos aos profissionais de Saúde que a utilizam.

A DocWorking funciona com um sistema semelhante ao da plataforma AirBnb, de locação de hospedagem, mas voltada apenas para a área de Saúde, onde tanto os profissionais podem colocar suas salas e equipamentos à disposição para locação por um período de horas ou dias, como também podem alugar os que encontram na plataforma, de acordo com os locais, infraestrutura e horários que lhes forem convenientes.

O sistema de busca detalhado permite que os profissionais que procuram espaços para alugar tenham acesso a detalhes, como preço, infraestrutura, equipamentos, especialidades e localização, entre outras informações.

Ao encontrar o local e definir os horários ou dias que deseja utilizar, o profissional faz o agendamento e paga o valor estabelecido pelo locador. A plataforma também permite a locação de equipamentos, como escâneres intraorais, microscópios, impressoras e fresadoras, entre outros, atrelados ao horário de locação das salas para utilização dos profissionais. Os serviços de profissionais assistentes e técnicos também podem ser disponibilizados por meio de agendamento.

“Dessa forma, os locadores recuperam mais rapidamente o investimento realizado na aquisição desses equipamentos, e o locatário pode oferecer essas tecnologias a seus pacientes, sem necessariamente precisar adquirir os equipamentos”, aponta Maurício.

Outra vantagem indicada pelo empresário é a possibilidade de agendar consultas em localizações mais convenientes aos pacientes, para que não precisem se deslocar em longas distâncias, principalmente em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Nesse formato, os profissionais podem locar os espaços também de acordo com o poder aquisitivo dos pacientes, buscando espaços mais simples ou mais requintados, de acordo com sua conveniência.

Maurício Querido declara que fez um alto investimento na criação de sua empresa digital, não apenas do ponto de vista tecnológico, mas também de suporte jurídico e operacional aos usuários. Ali, eles têm contratos já prontos, que estabelecem direitos e deveres de todos os usuários, sejam locatários ou locadores, e também podem contar com ferramentas de gestão financeira, com acesso a relatórios que apresentam a movimentação de locação realizada por períodos.

“Esse modelo de negócio funciona muito bem para ambos os lados. Ocupa e rentabiliza os horários ociosos das clínicas e consultórios, e também se apresenta como uma ótima possibilidade para os profissionais que não podem ou não desejam investir em uma infraestrutura própria, mas podem formar sua carteira de pacientes sem precisarem prestar seus serviços como contratados ou terceirizados de clínicas ou redes odontológicas”, indica.

A DocWorking tem atualmente cerca de duas mil pessoas cadastradas e aproximadamente 450 clínicas, espalhadas entre o Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, sendo que a maior parte está localizada no estado de São Paulo.

Considerado um negócio em franca expansão, o coworking na Odontologia tem capacidade ilimitada de crescimento e que pode viabilizar, facilitar, melhorar e personalizar o atendimento odontológico para todos os players envolvidos nesse ambiente. “A ideia é que todos possam trabalhar de forma mais inteligente e mais rentável”, finaliza Maurício Querido.