Clínicas odontológicas de alto padrão fora dos grandes centros urbanos

Clínicas odontológicas de alto padrão fora dos grandes centros urbanos

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As histórias dos cirurgiões-dentistas que empreenderam em cidades do interior e estão felizes com a decisão.

O caminho mais comum para quem vive em municípios do interior do Brasil é cursar a graduação em Odontologia fora de sua cidade – ou até estado – e depois tentar seguir carreira nas capitais ou nos grandes centros urbanos. Em busca de maior oferta de emprego e oportunidades, muitos cirurgiões-dentistas partem de suas cidades de origem cheios de esperança de construir uma carreira sólida. As oportunidades realmente existem e são promissoras. Mas, junto com elas, esses profissionais enfrentam maior concorrência, condições de subemprego e o desafio de formar uma clientela em um lugar onde muitas vezes não conhecem ninguém.

A revista Sorrisos Brasileiros traz duas histórias de cirurgiões-dentistas que decidiram não se afastar de suas raízes, acreditaram no sonho de levar uma Odontologia de qualidade para suas cidades de pequeno porte, construíram clínicas de alto padrão e estão contentes com a decisão.

Uma história de família

A família Nakata, de Tupã, interior de São Paulo, está na Odontologia há três gerações, desde meados da década de 1950, quando Shimiti Nakata se formou e voltou para a cidade onde toda a família vivia. “Ele foi o primeiro entre os irmãos a fazer faculdade. A família era toda de comerciantes”, conta Tiago Nakata, que também seguiu os caminhos do avô e do pai, com quem trabalha há dez anos. Quando o periodontista e implantodontista Shimiti Nakata Filho se formou em Odontologia pela Unesp, em Araçatuba, ele mudou-se com sua esposa, Carla Nakata, que conheceu na faculdade, para a cidade de Alta Floresta, no Mato Grosso, em busca de um lugar para desenvolverem suas carreiras.

No entanto, o cirurgião-dentista decidiu voltar para Tupã quando seu pai, Shimiti Nakata, adoeceu. “Outro fato que me trouxe de volta, e foi muito importante, é que eu sonhava em fazer especialização em Periodontia. Na época, a USP de Bauru era a meca da Odontologia, então retornei para estudar lá”, conta Nakata, explicando que Tupã fica próximo à cidade de Bauru. “A Periodontia me levou aos implantes e próteses, que estavam iniciando no Brasil. Eu até pensei em sair daqui depois que concluísse as especializações, mas rapidamente foram surgindo bons casos para eu tratar aqui em Tupã. Assim, quando concluí essa etapa de cursos que fiz, entre 1993 e 1997, eu descobri que era perdidamente apaixonado pela Odontologia. A partir daí, a dedicação só aumentou”, relembra.

Shimiti Nakata Filho conta que, no início de sua trajetória, trabalhava em um pequeno laboratório dentro do seu consultório. Durante a semana, atendia e moldava seus pacientes e, nos finais de semana, ia para o laboratório para fazer os enceramentos e fundições para ele mesmo realizar as peças. “A clínica foi crescendo e os pacientes foram aumentando. Alguns casos eram comuns, outros eram mais complexos.

Continuei fazendo outros cursos, buscando me aperfeiçoar cada vez mais. Naturalmente, o espaço – que tinha três consultórios – foi ficando pequeno. Por volta de 2013, meu filho também estava se formando em Odontologia e os sistemas digitais estavam começando a surgir. Então, resolvemos partir para o investimento de fazer uma clínica de alto padrão”, conta.

Tiago Nakata, filho de Shimiti, nasceu em Alta Floresta, no período em que seus pais viveram naquela cidade, mas ele tinha apenas dois anos quando a família decidiu voltar para Tupã. Seguindo os caminhos do pai e do avô, ele se formou em Odontologia pela Faculdade São Leopoldo Mandic, em Bauru, e morou em São Paulo durante um período. “Quando me formei, meu pai me propôs voltar para Tupã e ficar trabalhando com ele e minha mãe. É uma cidade bem menor, com 65 mil habitantes, mas eles já trabalhavam aqui há 30 anos”, conta Tiago Nakata.

A vantagem de estar em sua cidade e trabalhar com os pais pesou muito em sua decisão de permanecer. “Tupã é uma cidade muito tranquila, segura e com uma ótima qualidade de vida. Depois de dois ou três anos trabalhando juntos, em 2018, começamos a planejar a ampliação da clínica”, detalha Tiago. “Eu creio que esse investimento envolve uma atitude de ousadia porque, mesmo com todo um histórico da família já ter pavimentado esse caminho, quando fomos dar o passo de comprar tudo novo e atualizar o que fosse possível, analisamos muito se valeria a pena fazer uma clínica desse porte aqui. Sempre existe o medo porque é uma estrutura de alto nível em uma cidade pequena, mas como era uma roda que já vinha girando bem, optamos por ficar em Tupã”, conta.

Tiago Nakata também pondera o fato de que em uma cidade maior haveria também mais concorrência, e o nome e reconhecimento que já tinham em Tupã teria que ser recomeçado do zero.

A clínica Nakata tem 320 m², seis salas de atendimento e há nove anos trabalha com foco na Odontologia digital, utilizando o sistema CAD/CAM com escâner e fresadora, já tendo passado por atualizações dos equipamentos e softwares. Segundo Shimiti Nakata Filho, o objetivo de partir para uma estrutura maior e melhor foi oferecer mais conforto aos pacientes, além de dar o importante passo que é trabalhar com a Odontologia digital. “Era uma perspectiva totalmente diferente na minha vida. E meu filho, que era recém-formado, nunca conheceu outro sistema de trabalho”, relata.

A Clínica Nakata trabalha com 80% de reabilitação oral total, com atendimentos em Prótese Dentária, Periodontia e Implantodontia. “Estamos muito felizes com essa decisão. Temos um ótimo retorno na parte humana. Eu nasci e cresci em Tupã, e meu pai foi dentista na cidade desde 1957. Conhecemos muita gente e adquirimos um respeito muito grande. Muito mais do que clientes ou pacientes, nós temos amigos a quem podemos prestar nossos serviços, buscando sempre o máximo de qualidade. Vamos continuar firmes porque amamos o que fazemos”, finaliza Shimiti.

Sonho de irmãos

O cirurgião-dentista Matteus Lima Franco, de Santa Vitória, interior de MG, escolheu a Odontologia como profissão influenciado por seu irmão mais velho, que já era graduado na área. Filhos de pai pecuarista e mãe professora do ensino fundamental, eles foram os primeiros da família a trilhar a Odontologia como profissão. Franco conta que ele e o irmão, Vilmar, são nascidos na cidade, assim como seus pais, que vêm de famílias centenárias de Santa Vitória. Localizada na região superior do Triângulo Mineiro, a cidade tem cerca de 20 mil habitantes, segundo o Censo do IBGE, de 2022.

Graduado pela Universidade de Uberaba (MG), Franco reconhece que teve uma formação acadêmica muito boa. Especializou-se em Reabilitação Oral e até hoje faz parte do corpo clínico do curso de especialização, atuando primeiramente como preceptor dos alunos e, agora, apenas como professor, viajando por todo o País para ministrar cursos de educação continuada. “Em 2015, eu estava na faculdade, mas meu irmão e a esposa dele já eram formados em Odontologia, e decidimos abrir uma clínica na cidade.

Como Santa Vitória é muito pequena e fica muito próxima a Uberlândia, há uma migração de profissionais para outras cidades. O que tinha aqui era aquele modelo de dentistas antigos, que atendem da criança ao avô. Assim, meu irmão e eu pensamos em montar uma proposta diferente, de clínica multidisciplinar, com profissionais especialistas para montar um plano completo de tratamento e deixar o paciente à vontade e no mesmo lugar”, detalha Franco, explicando que nem todos os especialistas que trabalham na clínica são da cidade, mas moram na região e atendem em dias específicos.

Os irmãos compraram e reformaram uma casa no centro da cidade, transformando-a em uma clínica com 14 consultórios, sendo cinco para Odontologia e os outros nove para Medicina. Segundo ele, esse formato também possibilita o atendimento multidisciplinar de muitos pacientes. “Na parte odontológica, montamos um laboratório com raio X digital, documentação ortodôntica e todo o sistema digital de gerenciamento que permite aos profissionais acessarem os prontuários dos pacientes de qualquer lugar remotamente. A cidade também não tinha empresas que forneciam uniformes, então compramos fora da cidade. Imprimimos uma visão mais profissional que não existia em Santa Vitória”, diz Franco.

A clínica foi inaugurada em 2015 e, segundo o cirurgião-dentista, já bem consolidada na cidade. Entre os diversos pontos positivos que aponta sobre fazer esse tipo de investimento em uma cidade pequena, Franco destaca que a clínica pode oferecer um espaço de maior conforto aos pacientes, além da facilidade de estacionamento, o que ele reconhece ser quase impossível em uma cidade grande.

Assim como aconteceu com a família Nakata, por serem de uma família centenária na cidade, o fato de serem conhecidos facilita muito a captação de clientes, que já chegam até a clínica confiantes na conduta dos profissionais.

Para cuidar da gestão administrativa, Matteus Franco e o irmão contam com uma colaboradora formada em Administração de Empresas, e que também fica responsável pela parte mais operacional da função.

No entanto, ambos acompanham de perto o andamento dos negócios, gerenciando compras, pagamentos, investimentos e sempre pensando em ações para o contínuo desenvolvimento e aprimoramento da empresa. “Como trabalhamos com um software de gestão, eu consigo acompanhar o balanço comercial de cada paciente, ticket médio e valor dos serviços.

Também trabalhamos com metas de vendas, de entrega de trabalho e de pacientes novos”, detalha. O cirurgião-dentista confessa que eles tiveram mais dificuldades nos dois primeiros anos, especialmente por falta de conhecimento, mas depois buscaram capacitação em cursos de gestão de consultório. “Alguns cursos duraram meses. O penúltimo foi feito em um ano e o mais recente levamos dois anos para concluir”, diz Matteus Franco, ressaltando a importância desse tipo de conhecimento para qualquer profissional, independentemente do tamanho de sua clínica.

“Uma das coisas muito valiosas que eu aprendi foi enxergar minha clínica com os olhos do paciente. Eu nunca tinha sentado na minha recepção, por exemplo. Quando fiz isso, pude corrigir uma série de coisas, desde a iluminação, que ficou mais amena, até o aroma. Existe uma mesma fragrância por toda a clínica, que é como uma identidade olfativa nossa”, diz. Eles optaram por uma decoração vintage, mas com elementos modernos, como um aparelho de televisão para gerar algum entretenimento enquanto os pacientes aguardam para serem atendidos.

Franco explica que o valor dos atendimentos em sua clínica é mais alto, mas que os pacientes compreendem facilmente o conceito de valor agregado que o espaço oferece, tanto pelo alto nível dos profissionais como pelos recursos tecnológicos disponibilizados, além do conforto do ambiente. De acordo com o cirurgião-dentista, ele e seu irmão já recuperaram o investimento feito em equipamentos e infraestrutura, e falta pouco para recuperarem o que investiram na compra da casa.

Ele também comenta que, desde o início, os três estipularam um comissionamento para seus próprios serviços e que isso é levado à risca, para não misturarem o dinheiro da empresa com o pessoal.

Matteus Franco confessa que, ao se formar, não tinha intenção de ficar em sua cidade. No entanto, por não ter gostado da experiência de trabalhar como funcionário em outro consultório, ele e o irmão começaram a analisar as possibilidades de montar uma clínica em alguma cidade maior. O fato de já serem conhecidos em Santa Vitória e de que a cidade não contava com nenhuma estrutura de atendimento odontológico como a que eles pretendiam fazer foram determinantes para eles optarem por ficar.

“Valeu muito a pena, mas é preciso esclarecer que não acontece da noite para o dia, não é mágica. É preciso mesmo de muito esforço e perseverança, mas estamos felizes com nossa escolha”, encerra.