No lugar certo, na hora certa: positividade, gratidão e aproveitamento de oportunidades foram os caminhos para uma carreira internacional de sucesso.
Quem tem um primeiro contato com o cirurgião-dentista Celestino Nóbrega é imediatamente arrebatado por seu imenso talento como contador de histórias. Nenhuma inventada e todas vividas com tamanha intensidade, bom humor e olhar positivo até para as grandes adversidades. De personalidade dócil, ele alcançou importantes conquistas em sua vida pessoal e profissional sem perder a simplicidade, característica marcante do seu caráter.
Empatia e amor ao próximo também são marcas nítidas em sua trajetória, presentes em diversas de suas ações que visam levar benefícios e oportunidades a outras pessoas, sempre que possível.
Celestino Nóbrega nasceu em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, e graduou-se em Odontologia pela Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) em São José dos Campos (SP). Sempre muito estudioso, ainda no período escolar se destacava como um dos melhores alunos e já demonstrava um pensamento incomum para a sua idade.
“Desde pequeno, eu pensava sempre em como seria a minha vida dali a cinco anos”, descreve. Essa maturidade e foco precoces na forma de pensar foram determinantes para tudo o que aconteceu a seguir em sua vida e o que acontece até hoje, tanto no âmbito pessoal como profissional. “Quando eu estava no ginásio, pensava em ser cientista. Depois eu quis fazer Engenharia Química. Então, minha irmã, que já cursava Odontologia na cidade de São José dos Campos (SP), me levou para conhecer a faculdade e eu fiquei maravilhado. Estava na oitava série quando decidi estudar Odontologia”, conta.
Muito aplicado nos estudos, Nóbrega cresceu e resolveu prestar vestibular para Medicina, passando em primeiro lugar na Unesp de Botucatu (SP). Foi então que decidiu visitar um pronto-socorro para ver de perto como seria sua vida nessa carreira. “Eu tinha 17 anos e, quando cheguei lá, um médico nefrologista me recebeu e apresentou o setor onde ele trabalhava. Ele me mostrou uma máquina de hemodiálise e disse que o trabalho dele era escolher quem iria viver ou morrer, pois só havia um equipamento. Ele disse que só chamava quem ainda tinha alguma chance de sobrevida. Aquilo me impactou tanto que eu saí decidido a não cursar mais Medicina”, relata.
Celestino Nóbrega saiu do hospital e, mesmo sem avisar aos pais, trocou o curso para Odontologia, cursando em São José dos Campos. Ali ele dividia o tempo entre os estudos e a vida como músico (guitarrista), tocando nas noites. “Não sei como eu aguentava”, diz. Na faculdade, ele conheceu sua esposa que, além de cirurgiã-dentista, também é pianista, compartilhando com ele a paixão pela Odontologia e pela música.
Desde o primeiro ano da faculdade, Nóbrega se envolveu com o Diretório Acadêmico, o que considera ter sido um grande aprendizado. “Eu era tesoureiro e pude aprender muito sobre gestão de negócios. Lembro-me que na época, em 1982, eu e o presidente do DA reativamos o restaurante, contratamos pessoas e até hoje a mesma máquina de sucos que compramos ainda está lá”, relembra.
Depois de formado, Celestino Nóbrega quis fazer uma especialização em Cirurgia Bucomaxilofacial e chegou a ser aprovado para um curso e estágio nos Estados Unidos. Mas, para fazer o curso, ele precisaria ter um conhecimento básico em Ortodontia. Foi quando ele buscou essa especialização, apaixonou-se pela área e acabou desistindo da Cirurgia para se dedicar exclusivamente à Ortodontia.
Apesar de ser muito focado em seus objetivos desde criança, Nóbrega não recua e nem desiste de algo quando os caminhos o levam em outra direção. Atento aos movimentos do destino, ele se agarra às oportunidades que surgem das maneiras mais inesperadas. Como bom contador de histórias que é, esses momentos se transformam em capítulos de um roteiro que ele conduz sempre com muita positividade, e que logo se tornam contos da vida real em suas narrativas.
Certa vez, o ortodontista foi visitar seu irmão que fazia doutorado em Engenharia, na Alemanha. Ele conta que, nessa época, estava estudando artigos do ortodontista alemão Hans Peter Bimler, conhecido por desenvolver os aparelhos Bimler. “Eu estava na cidade de Wiesbaden quando, de repente, vejo uma placa de consultório com o nome dele. Bati à porta e era ele mesmo”, conta. Depois de algumas horas de conversa, Dr. Bimler o convidou para passar seis meses trabalhando com ele e até ofereceu sua casa para hospedar Nóbrega, gentileza que ele aceitou imediatamente.
Assim, ele ficou lá com sua esposa. “Nós morávamos na parte de baixo da casa, mas não tinha água quente. Então, descobri que uma amiga minha de Pindamonhangaba estava morando naquela mesma cidade e todos os dias íamos tomar banho na casa dela”, relembra, com bom humor.
Depois dessa experiência, Celestino Nóbrega cursou outra especialização nos Estados Unidos, onde ficava por duas semanas a cada três meses. Nesse curso, ele conheceu e se tornou amigo de outro cirurgião-dentista, que era titular de Ortodontia da Universidade de Nova York, e o convidou para trabalhar nos cursos de educação continuada da instituição, onde ele leciona até hoje.
Mas, antes de iniciar sua carreira internacional e se mudar definitivamente para os Estados Unidos, e percebendo a falta de cursos de especialização em Ortodontia no Brasil na década de 1980, Nóbrega decidiu abrir um curso, juntamente com um colega que hoje também trabalha com ele nos Estados Unidos.
“Começou como um curso laboratorial de Ortodontia em uma sala pequena e, para minha surpresa, vinha gente do Brasil inteiro. Alguns até se mudavam para São José dos Campos só para fazer o curso. Isso me chamou a atenção. Foi quando tive a ideia de abrir uma escola mesmo. Procurei um fabricante de móveis para consultório e propus montarmos um show-room para a venda de consultórios, onde também aconteceriam os cursos”, explica.
A escola, chamada Ortogeo, foi fundada em 1992 e existe até hoje, adquirida e agora gerida pelas pessoas que trabalhavam com o ortodontista na época. Nóbrega conta que, quando anunciaram vagas para pacientes fazerem o tratamento ortodôntico a preços simbólicos na escola, formou-se uma fila que dava volta no quarteirão, o que chamou a atenção da imprensa e virou pauta do Jornal Nacional, da Rede Globo.
O projeto cresceu, se multiplicou e ganhou mais cinco unidades, em diferentes estados do Brasil, que depois foram vendidas quando Nóbrega decidiu se mudar definitivamente para os Estados Unidos.
Em mais uma experiência de estar na hora certa e no lugar certo, o ortodontista participou do projeto dos braquetes autoligantes, quando a tecnologia foi anunciada na Universidade de Nova York.
Mais recentemente, em 2019, Celestino Nóbrega estava pensando em se aposentar, por acreditar que não havia mais nada de novo a ser desenvolvido para a Ortodontia, pelo menos a curto prazo. Foi quando recebeu outro convite para trabalhar no projeto de impressão de braquetes em 3D, em cerâmica policristalina. “Essa é uma tecnologia que eu imaginava que pudesse acontecer só daqui a dez ou 12 anos”, comenta.
Segundo ele, por meio desta tecnologia, tratamentos mais simples, que antes eram feitos em dois anos, hoje podem ser concluídos em oito meses, com apenas quatro a cinco consultas para ajustes. Ele diz que o procedimento ainda não chegou ao Brasil, pois a empresa está focada nos EUA, onde atualmente detém 25% do mercado, operando também no Canadá e Nova Zelândia. No entanto, ele acredita que em três anos a tecnologia esteja disponível no Brasil.
Hoje em dia, além de trabalhar na área de pesquisa e desenvolvimento dessa empresa, Celestino Nóbrega é o diretor do Departamento de Educação Continuada para estudantes estrangeiros da NYU e também dá aulas como professor clínico associado voluntário na Faculdade Case Western Reserve, na cidade de Cleveland, Ohio.
Apesar de viver há muitos anos nos Estados Unidos, o ortodontista não abre mão das raízes brasileiras e constantemente volta ao País, seja por questões profissionais ou para a fazenda que possui no interior de São Paulo, que é seu refúgio de paz e descanso, e onde também consegue desenvolver os projetos, já que como pesquisador pode trabalhar on-line.
Sem perder o costume de se planejar para os próximos cinco anos, Celestino Nóbrega diz que pretende continuar desenvolvendo projetos na empresa onde trabalha atualmente porque acredita que há muito espaço para novidades. “Hoje eu me considero um aposentado com um trabalho muito legal”, finaliza.