Turma do Bem: dedicação, engajamento e muita vontade de ajudar ao próximo

Turma do Bem: dedicação, engajamento e muita vontade de ajudar ao próximo

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Estes são os ingredientes que formam a Turma do Bem, internacionalmente premiada entidade brasileira de Odontologia voluntária.

Olhar empático, capacidade de detectar oportunidades, organização, uma ideia simples e habilidade de juntar pessoas para transformar um sonho em realidade. Foram esses fatores que levaram o odontopediatra Fabio Bibancos a criar, em 1995, a Turma do Bem. Hoje, a entidade é considerada uma das maiores organizações de trabalho voluntário em Odontologia do mundo, com importantes prêmios nacionais e internacionais, que reconhecem o impacto social e efeito multiplicador do trabalho realizado pelos mais de 18,4 mil cirurgiões-dentistas engajados no projeto, espalhados por todo o Brasil e também no exterior, como em Portugal e em países da América Latina.

Fabio Bibancos é paulista, e há 17 lançou o livro “Um sorriso feliz para seu filho”, focado em prevenção. O fato o levou a realizar palestras sobre os cuidados com a saúde bucal das crianças. Primeiramente, a convite de amigos, as apresentações foram feitas em escolas particulares e, depois, estenderam-se para a rede pública. Foi então que ele se deparou com a realidade completamente diferente de crianças com a dentição muito comprometida, na maioria das vezes pela falta de condições de ter para uma higiene bucal básica, como escova de dentes e creme dental, além de má alimentação e falta de conhecimento sobre os cuidados mínimos necessários com a dentição.

Diante daquela situação, Bibancos conta que encontrou em seu filho a inspiração que impulsionou a criação do projeto, quando viu a enorme diferença de oportunidades entre ele e aquelas crianças. Na oportunidade, o odontopediatra teve uma ideia simples e bastante factível. Reuniu 15 colegas de profissão dispostos a oferecer seus serviços gratuitamente a pessoas carentes e sem a menor condição de fazer qualquer tipo de tratamento odontológico, independentemente do que esses pacientes precisassem para serem totalmente reabilitados. Nascia, ali, a Turma do Bem.

Turma do Bem
Fabio Bibancos é o fundador da Turma do Bem. (Imagem: divulgação)

 

O projeto não demorou a se multiplicar e a ganhar novos adeptos entre profissionais que encontraram nessa ação a oportunidade de reconstruir sorrisos e devolver dignidade a milhares de pessoas, muito além do que restaurar dentes. E, a partir desse gesto, os assistidos puderam redesenhar suas trajetórias de vida, recuperando a autoestima perdida ou nunca antes alcançada, devido à condição precária de saúde bucal em que se encontravam.

“São inúmeras histórias lindas e emocionantes, que transformam não apenas as vidas desses pacientes, mas também a de todos que têm se dedicado a esse trabalho”, diz Bibancos, ressaltando o envolvimento dos milhares de cirurgiões-dentistas que compõem a entidade.

O criador da Turma do Bem imprimiu na organização todo o conhecimento e experiência como gestor de sua clínica odontológica, desenvolvendo um sistema organizacional que prioriza levar atendimento a crianças, adolescentes e adultos em extrema necessidade, e que são identificados pelos profissionais que fazem parte do projeto e encaminhados para os voluntários de cada região.

Em 2002, devido ao número de cirurgiões-dentistas engajados no projeto e à quantidade de pessoas impactadas pelos serviços voluntários prestados por eles, a Turma do Bem recebeu do Ministério da Justiça (MJ) a certificação de OSCIP (Organização Social Civil de Interesse Público).

“Meu exercício foi fazer uma organização muito séria e com alta credibilidade. Infelizmente, vivemos em um País com muita corrupção envolvendo projetos de voluntariado, e eu jamais gostaria de correr o risco de levantar qualquer suspeita a esse respeito”, diz Bibancos, informando que a entidade tem um custo de aproximadamente R$ 45 mil por ano contratando uma auditoria independente para aferir a contabilidade, além de passar também por auditoria pública, realizada pelo MJ.

A Turma do Bem realiza, atualmente, cerca de 84 mil atendimentos por ano, e se mantém por meio de doações de apoiadores e patrocinadores que confiam na idoneidade do projeto. “Sabemos que isso é pouco diante da extrema carência do País em termos de saúde bucal, mas tenho certeza que nós fazemos um trabalho inspirador”, ressalta Bibancos.

Programas e abrangência

O projeto, que alcançou uma proporção internacional, é subdividido em seis programas: Dentista do Bem, Apolônias do Bem, Meninas 15, Estudantes do Bem, Liga do Dentista Limpo, Dentista Verde e Vez do Bem, buscando atender públicos e necessidades específicas, com a maior abrangência possível.

Dentistas do Bem é o programa principal, que oferece atendimento a crianças e adolescentes de 11 a 17 anos, em mais de 1.300 municípios brasileiros, 12 países da América Latina e também na Europa, em Portugal.

Os pacientes passam por uma triagem, que utiliza como critérios selecionar aqueles que apresentam maiores problemas odontológicos, com menores condições econômicas e que estão mais próximos do primeiro emprego.

Os cirurgiões-dentistas voluntários atendem esses pacientes em seus consultórios, abrindo horários em suas agendas conforme sua disponibilidade e, seguindo determinações do projeto, sem distinção entre os beneficiários e os clientes particulares.

O programa Apolônias do Bem, por sua vez, foi implementado em 2012 com foco em atender mulheres cisgênero e transgênero vítimas de violência, independentemente da complexidade dos casos. O programa tem esse nome em alusão à personagem histórica Apolônia, de Alexandria, que morreu no ano de 249, após ser presa, espancada e ter todos os dentes arrancados.

Essas pacientes demandam apoio emocional, além do atendimento odontológico. “Muitas não querem ser atendidas por cirurgiões-dentistas homens. Então, temos que encaminhá-las para profissionais mulheres. Elas chegam com lesões graves, afundamentos ósseos causados por golpes. São tratamentos mais caros para o cirurgião-dentista. Precisa haver um preparo para atendê-las, o profissional procurar não tocar no assunto da violência a que foram submetidas, ter paciência e empatia”, descreve Bibancos.

Organização, prêmios e bênção do Papa

A organização da estrutura da Turma do Bem conta com cirurgiões-dentistas que são coordenadores regionais, e têm a missão de captar pacientes para serem atendidos pelo projeto, bem como engajar outros colegas, orientando-os sobre as regras a serem cumpridas. “Todos esses profissionais são voluntários. Para cuidar da parte administrativa, contamos com apenas 13 funcionários remunerados”, diz Bibancos.

As ações da Turma do Bem contam com uma rede de parceiros que vai desde órgãos públicos até entidades assistenciais, que auxiliam na identificação e no encaminhamento dos pacientes. Bibancos diz que até o SUS (Sistema Único de Saúde) também é um parceiro, uma vez que encaminha pessoas que precisam de atendimentos mais complexos do que o básico oferecido pelo sistema público.

Ele diz que em algumas regiões o sistema Judiciário também colabora, encaminhando mulheres vítimas de violência e que apresentam lesões na boca. “Isso facilita muito nosso trabalho de captação dessas pacientes”, afirma.

O sistema de comunicação e divulgação da Turma do Bem acontece por diversos meios. Além de outros livros publicados por Fábio Bibancos, o projeto tem suas ações divulgadas no canal do fundador da entidade no Youtube com workshops, depoimentos e histórias emocionantes de pacientes e cirurgiões-dentistas envolvidos com a organização, que também está presente nas principais redes sociais. Sete documentários em vídeo mostram a grandiosidade do projeto.

O site do projeto reúne toda a história da entidade, além de ser um dos canais onde cirurgiões-dentistas podem se inscrever para participar do projeto como voluntários, e apoiadores podem fazer suas doações e visualizar as prestações de contas da entidade.

Nesses 27 anos de existência, a Turma do Bem acumulou prêmios, teve seu trabalho divulgado em grandes veículos e programas da mídia impressa, eletrônica e digital.

Em 2013, em viagem à Europa para visitar o escritório central do projeto em Lisboa, Fabio Bibancos e 20 cirurgiões-dentistas do projeto foram recebidos pelo Papa Francisco, na Praça São Pedro, no Vaticano. Ao tomar conhecimento do trabalho da organização, o pontífice quebrou o protocolo em meio a 100 mil pessoas presentes, e fez questão de cumprimentar a comitiva de Bibancos, dizendo: “Vocês são muito bons. Rezem por mim”. O encontro representou um momento muito especial na história da Turma do Bem, segundo Fabio e os profissionais que o acompanharam.

Premiação

Em reconhecimento à dedicação dos cirurgiões-dentistas voluntários, a Turma do Bem realiza um evento anual que, além de reunir os profissionais que fazem parte do projeto, premia os mais engajados e que realizaram o maior número de atendimentos durante o ano.

Bibancos descreve que o evento conta com palestrantes renomados, entre filósofos, políticos, escritores e celebridades de diversas áreas, que levam aos presentes temas e conteúdos para além da Odontologia, e que sugerem autoconhecimento, amplitude de horizontes e comungam com a energia de amor ao próximo que define os envolvidos com o projeto.

Durante os dois anos da pandemia de Covid-19, o encontro dos Dentistas do Bem não pôde ser realizado. Neste ano, o evento voltará a acontecer num formato menor e híbrido, onde estarão presentes os 100 cirurgiões-dentistas que apresentaram os melhores resultados do ano. Também haverá transmissão on-line para os demais profissionais que fazem parte da Turma do Bem.

A Sorrisos Brasileiros conversou com um time de voluntários da Turma do Bem, eleitos como os “Melhores dentistas do mundo” pelo projeto, de diversas partes do País, que compartilharam o significado da organização para eles. A empolgação, o engajamento e a doação desses profissionais são contagiantes. Eles encaram esse trabalho voluntário como uma missão de vida, e todos dizem se sentir tão ou mais beneficiados do que os próprios pacientes que atendem.

Roberta Spinosa (Mogi das Cruzes – SP), desde 2009
“A Turma do Bem permite que eu exerça minha missão através de minhas mãos, devolvendo sorrisos e dando rosto aos alarmantes números dos menos favorecidos da sociedade.”

Leonardo Costa (Salvador – BA), desde 2011
“O projeto impacta muito em nossa vida pessoal e profissional. Sinto que essas pessoas envolvidas são diferenciadas.”

Osvaldo Magro Filho (Araçatuba – SP), desde 2007
“O encontro com o Papa Francisco foi o dia em que vimos as portas do Céu. A relevância da Turma do Bem trouxe um significado maior para o meu trabalho.”

Ana Carolina Massaro (Marília – SP), desde 2009
“Apaixonei-me completamente pelo projeto quando o conheci, ele trouxe o grande desafio de lidar e promover políticas públicas para a saúde bucal na minha região.”

Adriana Papel (São Luis dos Montes Belos – GO), desde 2006
“Depois que a gente se torna Dentista do Bem, nunca mais deixa de ser. Na minha região, conseguimos impactar o poder público com o projeto e sancionar um projeto de lei que oferece programas de saúde bucal à população”.

Carmem, (Rio de Janeiro – RJ) desde 2006
“A energia da Turma do Bem me dá vontade de continuar sempre fazendo coisas para ajudar ao próximo. Tive um problema grave de saúde e o que me ajudou a superar aquele momento foi fazer parte do projeto.”

Rosemeire Marqueti de Matos Pinheiros (Cachoeiro do Itapemirim – ES)
“Atendi a uma menina no projeto e alguns anos depois a encontrei como aluna de Odontologia na faculdade onde eu leciono. Foi um encontro muito emocionante. Nos abraçamos e eu chorei muito. Certamente nós inspiramos pessoas e isso é muito gratificante.”

Eric Jacomino Franco (Brasília – DF), desde 2009
“Como professor universitário, entendo que a perenização da Turma do Bem vai se dar se conscientizarmos os estudantes de Odontologia sobre o papel do terceiro setor e do empreendedorismo social na transformação de vida das pessoas. Isso não costuma ser abordado no meio acadêmico, elevar essa conscientização aos futuros cirurgiões-dentistas, para mim, tornou-se uma missão.”

Nícia de Matos (Barra Bonita – SP)
“Durante a pandemia, perdemos muitos voluntários. Como coordenadora da região, já cheguei a ter 100% dos cirurgiões-dentistas engajados no projeto. Então, recomecei todo o trabalho, batendo de porta em porta para trazer esses voluntários de volta. Eu vou continuar sempre e não vou parar jamais.”

Gracimara Alves David (Taiobeiras – MG), desde 2014
“Nós temos esse olhar para a dor alheia. O trabalho vai além do tratamento odontológico. Muitas vezes, angariamos roupas, alimentos. Vemos a mudança que um sorriso saudável leva às pessoas e buscamos ajudar mais. Temos que fazer a nossa parte, com ou sem ajuda do poder público.”

Luciana Buzadin, (São Paulo – SP), desde 2016
“Nunca imaginamos como esse trabalho impacta a vida das pessoas. Atendi a um menino com uma condição bucal muito precária. Soube que ele não estava mais indo à escola porque sofria bullying por ter os dentes estragados. Foi muito especial poder reabilitá-lo e, depois, vê-lo mudando de escola e voltando a estudar.”

Daiz da Silva Nunes (Macapá – AP), desde 2006
“Minha região é muito isolada. Para sair da minha cidade só de barco ou avião. Envolvo-me muito com pacientes do projeto e não consigo abandoná-los. Não sou conhecida pelas minhas especializações, mas como Dentista do Bem. Durante a pandemia, me enfiei no hospital como voluntária e trabalhei na UTI da Covid.”

Itamar Francisco Teixeira (Linhares – ES), desde 2006
“Sempre vai haver necessidade da Odontologia, já que a humanidade toda tem boca, mas o acesso a tratamento não é para todos. Vou dormir diariamente com o dilema de como reconceiturar a Odontologia. Durante a pandemia, passei a morar por dois meses no hospital público e fazia escovação nos pacientes com Covid.”