Odontologia e maternidade: como conciliar?

Odontologia e maternidade: como conciliar?

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Os desafios das cirurgiãs-dentistas para trabalhar com a Odontologia durante a maternidade e a gestação, e realizar o planejamento para o período após o nascimento dos filhos.

Com mais de 260 mil cirurgiãs-dentistas cadastradas no Conselho Federal de Odontologia (CFO), o número de profissionais do sexo feminino no Brasil é cerca de 33% maior do que o do sexo masculino. É de conhecimento geral que a prática da Odontologia não privilegia gêneros, mas existe uma situação que diferencia mulheres e homens na atividade: o período de gestação e a maternidade, principalmente nos primeiros meses de vida do bebê. Este período exige dedicação total das mães para a amamentação, cuidados e seu próprio período de recuperação pós-parto.

Se considerarmos uma gestação normal, sem intercorrências, e o nascimento de crianças saudáveis, que não demandem nenhuma atenção ou cuidados especiais, a dedicação e entrega das mulheres para esse momento já é bastante desafiadora. As mudanças do corpo impactam a mobilidade e agilidade; as alterações hormonais afetam as emoções; o período de afastamento do trabalho interfere no atendimento a pacientes e nos ganhos financeiros; e uma série de outros fatores exigem das cirurgiãs-dentistas esforço, foco, dedicação e planejamento, além da necessidade de contarem com uma rede de apoio, quando isso é possível.

A Sorrisos Brasileiros conversou com cinco cirurgiãs-dentistas que compartilham suas passagens por esse momento, quais foram seus principais desafios e como se planejaram para o período de afastamento das atividades profissionais.

Patrícia Almeida (São Paulo/SP)

Foto: arquivo pessoal.

 

Patrícia Almeida se tornou mãe da menina Pietra, que tinha apenas três meses de vida na época desta entrevista. Ela tem seu próprio consultório, que compartilha com sua irmã, e conta que uma das primeiras dificuldades que enfrentou já no início de sua gravidez foi conciliar os horários de atendimento aos seus pacientes com as consultas de pré-natal com a sua obstetra. “Já aconteceu de eu ter uma consulta agendada e ela precisar remarcar em cima da hora porque tinha que fazer um parto de emergência, e isso impactava na minha agenda do consultório”, conta.

“Não são todos os pacientes que compreendem essa situação. Em 2018, eu tive uma gravidez de gêmeos, mas perdi os bebês e precisei ficar internada para retirar a trompa esquerda. Por isso, minha secretária entrou em contato com um paciente, explicando que eu estava hospitalizada e que, assim que eu retornasse, continuaria o tratamento para a colocação da prótese dentária dele. Ele não entendeu a situação e fez um comentário nada empático, duvidando da explicação dela: ‘Então, na hora de começar meu tratamento ela estava bem, e agora não está mais?’. Isso foi a pior coisa que me aconteceu”, relembra. Quando retornou, Patrícia optou por devolver o valor pago pelo paciente e não dar continuidade ao atendimento. “Sempre fui muito ética e atenciosa com meus pacientes, mas ele não teve empatia no momento que eu mais precisei.

Expliquei a ele que, por esse motivo, eu não o atenderia mais”, relata. Nessa gravidez recente, a cirurgiã-dentista conseguiu se planejar melhor e atender seus pacientes até o final da gestação, apesar de sua filha ter nascido prematuramente. Afastada das atividades do consultório, ela faz a gestão administrativa em home office e procura auxiliar sua equipe à distância, sempre que possível. No entanto, ela já está planejando sua volta ao consultório, em meio período, e vai contar com o apoio da mãe, que vai ficar com sua filha durante o tempo em que Patrícia estiver trabalhando, e também com uma funcionária para os cuidados com a casa. “Não estou mais amamentando porque meu leite secou. As pessoas dizem que temos que nos focar apenas no bebê e procurar evitar preocupações, mas isso é impossível. As obrigações e responsabilidades com a casa e o consultório continuam, as contas vão vencendo e meus ganhos diminuíram neste período de afastamento”, explica.

“Graças a Deus eu tenho minha própria clínica e pude contar com a ajuda da minha irmã. Não são todos os lugares que aceitam contratar mulheres grávidas ou que pretendem ter filhos”, diz Patrícia, contando que uma das cirurgiãs-dentistas que trabalha em sua equipe está grávida e recebe todo o apoio. “A equipe faz os raios x para que ela não fique exposta à radiação, colocamos para ela uma cadeira mais apropriada e estendemos o tempo de atendimento aos pacientes porque ela faz as coisas com mais lentidão, além deprecisar parar mais vezes para usar o toalete. Ela deixou de trabalhar em outros lugares porque não aceitavam essas limitações”, conta.

A volta ao trabalho após a gravidez também muda. Além de ficar menos horas no consultório, Patrícia observa que a rotina de chegar em casa é diferente. “Nós, que trabalhamos na área da Saúde, precisamos ter um cuidado redobrado quando temos um bebê em casa. Passo o dia todo recebendo aerossol, em contato com a boca dos pacientes. Então, antes de pegar minha filha, tenho que tomar banho, colocar a minha roupa para lavar e só depois posso cuidar dela. E em cada fase serão novos desafios. É difícil, mas é muito bom”, conclui.

Alice Miotto (Curitiba/PR)

Foto: arquivo pessoal.


A cirurgiã-dentista Alice Mioto tem a organização e a capacidade de gestão administrativa como características intrínsecas à sua personalidade. Isso fez com que ela planejasse bem todas as etapas que iria passar quando ficou grávida. Na época desta entrevista, Alice havia dado à luz a menina Cloe há dois meses e estava cumprindo sua licença maternidade. “Como mulher, sempre tive o desejo de ser mãe. E como autônoma, eu sabia que precisava me planejar para esse momento”, diz Alice, que trabalha em seu próprio consultório e no serviço público, atendendo no Exército, o que lhe garantiu a licença remunerada durante o tempo que precisou ficar afastada das atividades profissionais após o nascimento da filha.

Para substituí-la, Alice selecionou três profissionais com as mesmas qualificações acadêmicas, científicas e técnicas que ela, formadas em universidades federais, com pós-graduação e mestrado. “Selecionei três cirurgiãs-dentistas que foram minhas alunas em cursos de bruxismo e disfunção temporomandibular (DTM), e que eu sabia que iriam cumprir os conceitos que eu preconizo. Durante a gestação, elas me acompanharam nos atendimentos. Tive a sorte de encontrar pessoas dispostas a aprender mais sobre Odontologia para me substituir quando me afastei”, conta.

Assim, além de conseguir manter o padrão de atendimento, a cirurgiã-dentista ainda conta com uma porcentagem do valor dos tratamentos, o que garante mais conforto financeiro no período de afastamento. “Elas também conversam comigo sobre os casos dos pacientes, essa é uma maneira deles sentirem que eu continuo por perto”, relata. “Durante a gestação, eu pratiquei muita atividade física, me alimentei bem e fiz tudo para me manter saudável. Tanto é que consegui trabalhar até dois dias antes do nascimento da minha filha. Reservei as segundas-feiras para os cuidados com a gravidez e para as consultas e exames pré-natais”, explica.

Apesar da gestação tranquila, Alice teve uma pequena intercorrência e precisou se submeter a um procedimento de cerclagem para fechar um pouco o colo do útero, que sofreu uma dilatação. “Mesmo assim, o médico me liberou para continuar trabalhando e fazendo as atividades físicas, que eram pilates e hidroginástica”, revela. Como seus pais moram longe, Alice ainda não tem certeza se vai contratar uma babá ou deixar sua filha na creche quando voltar a trabalhar. “Uma coisa é certa: não é possível fazer isso sozinha. Seja contratada ou tendo ajuda de familiares, a rede de apoio é fundamental”, finaliza.

Laís Rocha (Niterói/RJ)

Foto: arquivo pessoal.


Formada há 15 anos, Laís Rocha diz que, por ser autônoma, procurou planejar bem sua gravidez. Com uma filha de seis anos, ela conta que era cirurgiãdentista temporária do Exército, onde ficou durante oito anos e garantiu estabilidade financeira para o período de afastamento, além de atender em seu consultório particular. Laís passou por uma situação rara em sua gestação. “Apesar de todo o planejamento, eu tive uma gestação natural de trigêmeos, sem nunca ter havido nenhum caso de gravidez gemelar na minha família e nem na família do meu marido. No início, eu trabalhava tanto no meu consultório como no Exército, mas meu médico pediu para eu me afastar porque uma gravidez de trigêmeos exige cuidados especiais”, explica. Assim, ela passou a exercer apenas atividades administrativas no serviço militar.

Depois do terceiro exame de ultrassom, a cirurgiãdentista conta que só foram registrados os batimentos cardíacos da filha Letícia, e não mais dos outros dois fetos. “Fui lutando para que minha filha continuasse se desenvolvendo, apesar do tecido necrótico que havia ali pela perda dos outros dois. E não era possível retirá-los, senão eu a perderia também”, descreve, relatando que, mesmo com essa condição atípica, conseguiu chegar bem até o final da gestação da filha. “Eu tive algumas pequenas perdas de sangue, que os médicos consideraram normal, mas nunca tive um episódio de hemorragia”, complementa.

Laís foi liberada para voltar a trabalhar normalmente, apesar de ter sido mantida nos serviços administrativos no Exército porque a rotina de atendimentoodontológico era muito exaustiva. No consultório, ela diminuiu o ritmo e compartilhou os atendimentos com uma colega. “Fui concluindo os casos dos meus pacientes para não ficar com nenhuma preocupação quando parasse”, explica. Ela se afastou completamente da atuação profissional aos sete meses de gestação. Como uma espécie de autodefesa do corpo e da mente, Laís revela que não consegue se lembrar com detalhes dos primeiros meses da gravidez. Sua irmã comenta que ela parecia estar em uma bolha, anestesiada pela realidade trágica que havia vivido, apesar da boa notícia de um dos fetos ter conseguido se desenvolver normalmente. “Sou uma mulher de muita fé, isso me ajudou a ter forças para passar por esse momento e focar na vida da Letícia, e não na perda dos outros dois. O tempo todo eu acreditei que daria certo”, confidencia.

Após o nascimento da filha, a cirurgiã-dentista passou por mais um período tenso. “Minha sócia já havia decidido romper a sociedade no final da minha gestação e, quando a Letícia estava com dois meses, eu tinha que ir ao consultório para entrevistar cirurgiãs-dentistas e escolher outra pessoa para trabalhar comigo. Eu levava a minha filha, que ficava com a minha mãe em uma sala reservada, e entre uma entrevista e outra eu a amamentava. Foi tanta pressão que eu cheguei a pensar em desistir do consultório e ficar só com o trabalho no Exército”, desabafa. Laís diz que voltou a atender pacientes efetivamente três meses após o parto. Como mora perto do consultório, sua mãe passou a ficar com a bebê em sua casa e ela ia até lá para amamentar, solução que se desdobrou por algum tempo. Para o serviço no Exército, ela voltou seis meses após o parto. A rotina entre os dois locais de trabalho foi pesada. Laís atendia no Exército das 7h às 14h, e no consultório das 15h às 20h.

Com isso, sobrava pouco tempo para estar com a filha. Desta forma, dois anos antes de vencer o prazo de oito anos no Exército, em 2020, ela pediu o afastamento do serviço público militar para se dedicar apenas ao seu consultório. Há três anos, a filha de Laís foi diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista). “Quando ela tinha dois anos e meio, parou de falar completamente. Começamos os tratamentos assim que tivemos certeza sobre o diagnóstico. Ela voltou a falar com quase cinco anos de idade. Hoje, ela fala normalmente e acompanha as atividades escolares para a idade dela, mas ainda tem progressos a fazer”, destaca.

Laís tem consciência de que o apoio do marido e sua dedicação pessoal têm sido fundamentais para o desenvolvimento da filha. “O fato de eu fazer terapia há 20 anos e trabalhar com algo que eu amo – que é a Odontologia – também me ajuda muito a enfrentar esse desafio e continuar me dedicando com todas as minhas forças à Letícia e à minha profissão, mantendo meu equilíbrio emocional”, finaliza.

Renata Paraguassú (Niterói/RJ)

Foto: arquivo pessoal.


Renata Paraguassu tem duas filhas de dois casamentos diferentes, a primeira com um não cirurgião-dentista, e que hoje tem 14 anos, e a segunda com um colega de profissão, atualmente com nove anos. “Meu primeiro marido não entendia a dinâmica da nossa inter-relação com os pacientes. Como sou ortodontista, meu trabalho não me permite simplesmente desaparecer e deixar meus pacientes desassistidos. São tratamentos longos, que muitas vezes podem durar mais de dois anos”, diz.

Renata conta que engravidou da primeira filha, Beatriz, aos 34 anos porque priorizou a carreira. Mas, mesmo com toda a dedicação que sempre teve à profissão, chegou a ouvir de uma paciente, para quem comunicou que estava grávida, a seguinte reclamação: “Mas, logo agora, no meio do meu tratamento?”. A falta de empatia, em diversos níveis, é um relato comum de mulheres gestantes, principalmente de profissionais que passam por esse período trabalhando.

Naquela época, a ortodontista era proprietária de uma clínica grande, com diversos funcionários, e diz que trabalhava muito, de segunda-feira a sábado. “Treinei as pessoas que iriam me substituir durante o período que eu teria que me afastar após o nascimento do bebê, apresentei essa equipe aos pacientes e procurei deixar tudo organizado e programado. Mesmo assim, acontecem imprevistos”, relata, dizendo que teve que voltar ao trabalho menos de três meses após ter dado à luz porque uma pessoa deixou a equipe e os pacientes demandavam muito a presença dela. “Como a clínica era muito grande, consegui isolar uma sala e montar um quarto para minha filha, com berço e tudo o que ela precisava. Lá ela ficava com a babá para que eu pudesse amamentar nos intervalos dos atendimentos. Hoje, ela tem 14 anos e diz que jamais seria cirurgiã-dentista.

Acho que nenhuma das minhas filhas vai se interessar por Odontologia”, revela. Renata ressalta que adora sua profissão, mas que quando decidiu cursar Odontologia, há muitos anos, nunca pensou em como seria ser mãe e cirurgiãdentista. “Como sou filha de professora e via minha mãe trabalhando o dia inteiro para os outros, sem muito tempo para ficar comigo, quando eu era mais jovem imaginava que, se eu tivesse meu próprio negócio, conseguiria ter mais tempo para os filhos. Mas isso era uma ilusão”, reconhece Renata.

Logo após o nascimento da filha, o ex-marido de Renata foi transferido para Brasília (DF) pelo trabalho e voltava esporadicamente, até que veio o divórcio quando Beatriz tinha três anos de idade. Como os pais de Renata ainda trabalhavam como professores na época, ela praticamente não tinha rede de apoio. “Mesmo com tantas dificuldades, e contando com a ajuda da Rose, que trabalha em casa comigo até hoje, eu consegui amamentar Beatriz até os três anos de idade”, comemora.

Renata se casou novamente e conta que a segunda gestação foi bem menos atribulada. “Eu me tornei cirurgiã-dentista do Exército, como temporária, e isso me deu a segurança necessária para a gestação e para o período em que precisei me afastar por licença-maternidade”, detalha. A ortodontista também continuou com sua clínica particular, e seu segundo e atual marido assumiu o atendimento dos pacientes de Renata enquanto ela ficou afastada. Sua segunda filha, Luiza, tem hoje nove anos de idade.

A segunda maternidade despertou em Renata a necessidade de mudar seu ritmo de vida para que pudesse dedicar mais tempo às filhas. Então, ela decidiu reduzir o tamanho de sua clínica e, assim, ter uma melhor gestão do seu tempo. “A Odontologia e a maternidade têm muitos desafios. É preciso conciliar as duas coisas de alguma forma. Apesar de eu não ter vivido isso, por ter o meu próprio negócio, o assédio moral e a falta de empatia com cirurgiãs-dentistas grávidas ainda são muito presentes no mercado. Muitas colegas desistem da profissão. O que costumo dizer para minhas alunas de especialização é que temos que nos valorizar muito como profissionais e procurarmos construir uma carreira em que não sejamos descartáveis. Se considerarmos que o paciente é nosso principal patrão, é mais fácil construir uma relação humanizada com ele do que com o dono da clínica”, conclui.

Raquel Esmeraldo Sato (São Paulo/SP)

Foto: arquivo pessoal.

Raquel Esmeraldo é mãe de uma menina de 14 anos, Maria Julia, e de um menino de oito anos, Antônio. A cirurgiã-dentista conta que viveu as experiências de uma gravidez tranquila e de outra mais complicada. “Na primeira gestação, eu trabalhava em uma clínica e tinha meu consultório. Consegui trabalhar bem até o final da gravidez. Mas, quando voltei, preferi ficar só no meu consultório e não trabalhar mais para ninguém”, revela.

Ela voltou a trabalhar três meses após o parto, levava a bebê para o consultório e atendia dois ou três pacientes por dia. “Na época, eu era só periodontista e foquei apenas em acompanhar os pacientes que já tinha, e não captar novos. Meu marido, que também é cirurgião-dentista, assumiu a maior parte das nossas despesas. Mas, antes de eu engravidar, fizemos uma reserva dedinheiro porque sabíamos que eu diminuiria o ritmo de trabalho depois que a nossa filha nascesse”, relata.

Raquel diz que retomar o ritmo profissional não foi fácil. “Eu atendia cada vez menos no consultório. Não abandonava meus pacientes, mas tinha meses que eu pagava para trabalhar. Isso começou a me desanimar e cheguei a pensar em desistir da profissão. Fiquei em dúvida se deixava minha filha com uma babá. Por fim, decidi colocá-la em uma escolinha em período integral quando ela tinha um ano e oito meses. Então voltei a trabalhar e estudar, e minha carreira voltou a alavancar”, conta.

Quando sua filha tinha cerca de quatro anos de idade, começou a dizer aos pais que gostaria de ter um irmão. Raquel diz que tinha dúvidas sobre ter um segundo filho, justamente quando havia retomado o ritmo profissional. “Minha filha queria muito e ficava na escolinha das 7h da manhã às 7h da noite. Eu trabalhava muito, me cobrava demais sobre estar sendo egoísta com minha filha e acabei sendo diagnosticada com Síndrome de Burnout, indo parar no hospital”, revela.

Hipertensa e em estado depressivo, Raquel foi aconselhada por seu tio, que também era seu médico, a desacelerar e relembrar seu sonho de infância, que era ser mãe e ter dois filhos. “Meu marido e eu decidimos tirar férias de um mês e meio com nossa filha, coisa que nunca havíamos feito antes, e foi ótimo. Eu me senti super bem, me recuperei e decidi não me prevenir mais para não engravidar. Decidi deixar que Deus decidisse o que seria melhor. Três meses depois, fiquei grávida do Antônio”, conta.

Entre a insegurança e a felicidade pela vinda do segundo filho, a periodontista decidiu fazer diferente. Contratou uma pessoa de confiança para o cuidado do bebê, já antes dele nascer, e que a acompanhou durante a gravidez. “Eu tinha medo que o Antônio não se sentisse tão seguro e confiante quanto a Maria Julia, pelo fato de eu ter ficado com ela até quase os dois anos de idade, e ele ter que ficar com a babá. Mas hoje em dia ele é até mais seguro e confiante do que ela”, descreve.

Quando Antônio tinha oito meses, Raquel fez outra especialização. “No dia do aniversário dele, eu não estava em casa por causa do curso, que era uma vez por mês e eu não podia faltar. Fiquei com muito peso na consciência. Mas, hoje os dois me apoiam muito, sentem orgulho de mim e são minha maior riqueza”, conclui.

As histórias destas mães e cirurgiãs-dentistas fazem parte de uma pequena amostragem, mas comprovam que, apesar do grande número de mulheres atuando na Odontologia, ainda há muito espaço para evolução.

O trabalho de forma autônoma é outro complicador. Esses relatos comoventes, impactantes e inspiradores reforçam que as mulheres ainda precisam enfrentar adversidades quando decidem conciliar seu sonho pessoal e profissional, e provam que isso é possível, mesmo diante de tantos desafios.