A tecnologia auxilia especialistas de Periodontia e Endodontia na busca por procedimentos de profilaxia sem dor.
Os avanços tecnológicos na Odontologia em busca de minimizar ou até eliminar a dor dos processos clínicos começaram a despontar ainda na década de 1970. Um dos exemplos são os aparelhos de ultrassom, utilizados na Periodontia e Endodontia para auxiliar no diagnóstico de doenças da gengiva e dos dentes, e no processo de limpeza de raízes comprometidas.
Com o passar dos anos e o desenvolvimento desta tecnologia, um dos avanços da atualidade é o protocolo GBT (guided biofilm therapy) – terapia guiada de biofilme. Trata-se de uma inovação que apresenta um novo procedimento para profilaxia dental minimamente invasiva e preventiva. O procedimento foi desenvolvido pela empresa suíça EMS (Electro Medical System) e está disponível no Brasil desde 2021.
A cirurgiã-dentista e periodontista Maria Fernanda Kolbe Sepulcre considera o novo protocolo como um divisor de águas e uma quebra de paradigma na Periodontia e Endodontia. Assim como outras especialidades têm se beneficiado da tecnologia para realizar procedimentos menos invasivos e mais rápidos, a especialista acredita que a Periodontia clamava por soluções mais confortáveis e menos invasivas para os pacientes, principalmente na prevenção e profilaxia. “Apesar de cirurgias e enxertos fazerem parte do hall de procedimentos de todo periodontista, é o controle e manutenção periodontal que estão no nosso dia a dia. O paciente que faz um tratamento precisa retornar periodicamente, pois a doença periodontal não tem cura, é crônica, e esse controle depende de uma profilaxia profissional meticulosa e regrada. Quando esse processo é doloroso e desconfortável, isso compromete a adesão do paciente”, diz Maria Fernanda.
Desta forma, soluções menos invasivas para o protocolo de profilaxia fazem diferença na adesão do paciente aos cuidados com a saúde e higiene bucal. “Eu tenho pacientes que precisam retornar a cada 40 dias para manutenção. Tenho certeza de que não conseguira ter a adesão desses pacientes se trabalhasse apenas com o método tradicional de profilaxia”, afirma Maria Fernanda.
Para a especialista, uma das maiores vantagens deste novo protocolo está na diminuição quase total de dor, o que possibilita a realização do procedimento sem o uso de anestesia. “O periodontista tem que limpar a região subgengival e, uma vez que o paciente teve doença periodontal, vai ter bolsa residual por melhor que ele faça a escovação. Então, o profissional precisa limpar essa região. Com o protocolo GBT não é preciso anestesiar o paciente, além de não haver desgaste de dentina”, explica.
Maria Fernanda explica que o protocolo permite que o profissional faça a evidenciação educativa do biofilme, facilitando a visualização, também pelo paciente, das áreas a serem tratadas. Segundo ela, o evidenciador utilizado nesse protocolo é de fácil remoção e não mancha os dentes. “É muito importante o fato de poder mostrar ao paciente que, por mais que ele escove bem os dentes e passe o fio dental, sempre há áreas que necessitam de uma limpeza profunda”, declara, afirmando que nem sempre ela utilizava evidenciadores convencionais no método tradicional, devido à dificuldade de remoção e desgaste do dente.
A tecnologia por trás do procedimento
O equipamento utilizado para a execução do protocolo conta com três peças de mão: o airflow, que faz a remoção do biofilme com um fluxo de ar, sem contato com o dente; o perioflow, para remoção do biofilme subgengival; e o piezon no pain, para remoção do cálculo dental.
O produto utilizado para a limpeza e polimento dos dentes, no lugar de pastas abrasivas, jatos de bicabornato e ultrassom, é um pó à base de eritritol, um adoçante natural proveniente de frutas, com baixo índice glicêmico e ação anticariogênica. Maria Fernanda indica que ele pode ser utilizado nos dentes para remoção de biofilme jovem, maduro e cálculo em formação, e na parte subgengival, nas bolsas periodontais, bolsas peri-implantares, toda a gengiva, palato e língua, possibilitando uma limpeza profunda. O ultrassom é utilizado ao final do procedimento para remover cálculos mais duros que o eritritol não tenha eliminado.
Maria Fernanda explica, ainda, que o protocolo pode ser utilizado também em crianças a partir dos dois anos de idade até pessoas idosas. “Esses pacientes que têm dificuldades na parte motora são muito beneficiados porque podem se submeter à profilaxia de forma confortável, rápida e indolor”, afirma, ressaltando a vantagem desse procedimento principalmente em pacientes com hipersensibilidade. De acordo com a cirurgiã-dentista, especialistas em Odontologia Hospitalar também têm aderido a esse método, pautados nas características minimamente invasivas e indolores, principalmente para aplicação de profilaxia dental em UTIs. Além disso, tem aumentado o número de ortodontistas e odontopediatras que utilizam o protocolo.
Custo-benefício
O custo do equipamento ainda é considerado alto, girando em torno de R$ 60 mil. Mas, segundo Maria Fernanda, o aumento de procura por parte dos pacientes e a maior adesão às consultas de manutenção fizeram com que o investimento se pagasse. “Comecei a utilizar o protocolo GBT durante a pandemia e preferi não aumentar o preço do serviço em um primeiro momento. Depois ajustei um pouco, mas não enfrentei resistência por parte dos pacientes”, diz a especialista.
Outra vantagem do protocolo, de acordo com Maria Fernanda, é fato do tempo de execução de uma profilaxia ser reduzido pela metade, em comparação com o método tradicional. “Isso permite o agendamento de mais pacientes por dia, o que também é compensador”, completa.
Apesar de parecer mais frequentemente utilizado Periodontia e Implantodontia, Maria Fernanda aponta que o protocolo é indicado para todas as especialidades, inclusive Harmonização Orofacial e Estética Dentária. “Ninguém inicia um tratamento estético antes de limpar e tratar os dentes, e é muito melhor fazer essa profilaxia com um método mais rápido e menos invasivo”, diz ela. Maria Fernanda destaca que esse tipo de tecnologia valoriza a profilaxia, que considera um dos procedimentos mais importantes da Odontologia, já que o principal objetivo é a prevenção de doenças e a manutenção da saúde bucal.
A capacitação para uso do protocolo GBT é feita pela academia de treinamento da empresa fabricante. Segundo Gislaine Sachetti, gerente de educação e marketing da EMS, o programa de certificação passa pelo crivo de 50 pacientes dos cirurgiões-dentistas treinados, que respondem a um questionário de avaliação. Só então a clínica recebe o certificado de aptidão para uso do protocolo GBT. Gislaine explica, ainda, que o treinamento é feito individualmente em cada clínica, com todos os profissionais que utilizarão o protocolo composto por parte teórica e prática.