Empresário leva acesso à saúde bucal para jovens de baixa renda

Empresário leva acesso à saúde bucal para jovens de baixa renda

Compartilhar

Serviço existe há nove anos, na cidade de São Paulo, e tem uma média de 1.500 atendimentos por mês.

O bairro do Bom Retiro, em São Paulo, é tradicional no comércio de roupas e acessórios de moda. A região, que hoje conta com grande presença da comunidade oriental, até o final da década de 1980 era habitada pela comunidade judaica que, majoritariamente, comandava o comércio. Essa presença ainda permanece em algumas lojas e também em algumas sinagogas na região.

E é lá que, há nove anos, funciona a Associação Israelita Fortunée de Picciotto, uma entidade sem fins lucrativos que se dedica a levar atendimento odontológico a crianças e adolescentes, com idades entre dois e 16 anos, em situação de vulnerabilidade social. A triagem dos pacientes é feita em parceria com diversas instituições assistenciais, que os encaminha para atendimento.

“Eles já chegam para nós com a avaliação socioeconômica e aqui passam por triagem, técnicas de escovação, limpeza, restauração, tratamento de canal e extração de dente de leite, ou seja, tudo o que um odontopediatra faz, nós fazemos aqui gratuitamente”, explica a cirurgiãdentista Nadia Salem Abdel Jabbar, gestora e responsável técnica da Fortunée Picciotto.

A especialista explica que os procedimentos que precisam ser realizados em dentes permanentes são encaminhados para uma segunda clínica, a Fortunée Smiles (que também faz parte do grupo), onde são feitos os tratamentos ortodônticos e endodônticos de dentes permanentes, além de cirurgias. Nesse espaço os atendimentos são cobrados, mas, para os adolescentes oriundos do projeto social, os valores são reduzidos e a forma de pagamento é facilitada.

“As mães que trazem seus filhos para atendimento na associação gostam muito do nosso trabalho e confiam em nós. Por isso, a maioria opta por continuar os atendimentos na outra clínica quando os filhos passam dos 16 anos”, afirma Nadia.

O projeto da associação foi idealizado e é totalmente financiado por Vivian de Picciotto, um empresário libanês de origem italiana. Ele não divulga o valor do investimento mensal, mas a cifra é alta. “Esse projeto só me dá alegrias”, afirma Picciotto, um senhor simpático, cheio de ótimas histórias e que investe no voluntariado como forma de retribuir à vida a prosperidade que alcançou como empresário.

A associação trabalha em parceria com cerca de 80 entidades assistenciais. Segundo o empresário, essas associações visitam a Fortunée de Picciotto e eles também se deslocam para conhecer o trabalho dessas instituições, certificando-se da idoneidade e da seriedade dos trabalhos exercidos antes de fecharem as parcerias. É somente por meio dessas associações que as crianças e os adolescentes de baixa renda podem ter acesso aos tratamentos odontológicos oferecidos pela clínica.

Com uma média de 1.500 atendimentos por mês, a Fortunée de Picciotto encerrou o ano de 2023 tendo realizado aproximadamente 18 mil atendimentos, totalizando 100 mil crianças e adolescentes assistidos durante os nove anos de existência do projeto.

A clínica conta com cinco cirurgiões-dentistas, além de Nadia; dez auxiliares; além das seis pessoas da equipe administrativa. São sete consultórios, área exclusiva para escovação e para aprendizado de higienização bucal, sala de limpeza e esterilização, além de cozinha, refeitório e sala de descanso para os funcionários, em um espaço com acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida.

Vivian de Picciotto conta que em 1970, quando chegou ao Brasil em condições precárias, alimentava-se uma vez por dia. “Era apenas uma mortadela e, quando o dono fechava o estabelecimento, um funcionário dele me deixava entrar e colocava um pouco de vinagrete por cima e ficava uma delícia”, relembra, dizendo que prometeu a si mesmo que, caso conseguisse se realizar profissional e financeiramente no Brasil, iria montar uma clínica para atender menores carentes.

“Aos poucos, as coisas foram caminhando bem, eu fiz bons negócios e estou ensinando isso aos meus filhos”, diz Picciotto. Além do atendimento odontológico, a Associação está expandindo o trabalho assistencial para consultas oftalmológicas. Ele conta que a estrutura já está praticamente pronta, com equipamentos de primeira linha.

Atualmente, com empreendimentos em diversas áreas, Picciotto diz que trabalhou durante muito tempo no mercado financeiro e na incorporação da construção civil. “Ganhei muito dinheiro, graças a Deus, e hoje cuido do meu patrimônio”, relata.

A Associação Fortunée de Picciotto tem aproximadamente 14 mil pacientes cadastrados que passam periodicamente por tratamento e acompanhamento. Dos cerca de 150 atendimentos diários da clínica, 50 são totalmente gratuitos para as crianças que fazem parte do programa assistencial indicadas pelas entidades parceiras. Picciotto explica que os outros atendimentos, ainda que pagos, também passam por subsídio e o valor dos serviços é bem inferior ao do mercado. “Temos que retribuir. Deus nos deu, então temos que dar aos outros”, finaliza.