Cirurgiões-dentistas nos esportes de alto rendimento

Cirurgiões-dentistas nos esportes de alto rendimento

Compartilhar

Conheça a rotina de profissionais da Odontologia que encontraram no esporte o caminho ideal para levar o dia a dia com mais disposição e saúde.

Por Leandro Duarte

Muitas vezes, o expediente nos consultórios odontológicos e centros cirúrgicos é descrito como uma verdadeira maratona. Porém, a comparação se refere à grande demanda de compromissos e tarefas, que têm como consequência a falta de tempo para atividades físicas, naquela desculpa utilizada por muitas pessoas. No entanto, há cirurgiões-dentistas que não abrem mão de se exercitar diariamente, já que os benefícios à saúde são os mais variados.

Em alguns casos, o que começou como um hobby em uma rotina saudável se transformou em uma espécie de carreira paralela. Na sequência, a revista Sorrisos Brasileiros traz histórias inspiradoras de profissionais que mudaram suas vidas por meio do esporte de alto rendimento.

Júlio Cordeiro e as 117 maratonas no currículo

Todo profissional de Saúde, independentemente da área, sabe que a prevenção não impede o surgimento de uma doença, mas contribui muito para evitar ou até mesmo desacelerar sua manifestação. Com pai e irmãos cardiopatas, o cirurgião-dentista pernambucano Júlio Cordeiro, de 55 anos, decidiu mudar o rumo de sua vida após se submeter a um cateterismo.

Preocupado em ter mais qualidade de vida e longevidade ao lado dos quatro filhos e da esposa, ele viu no esporte a melhor possibilidade de diminuir as chances de problemas no coração, além de abrir mão dos remédios para o controle da pressão arterial. “Mesmo com a medicação, a pressão arterial não baixava. Eu me assustei com isso. Então eu comecei a caminhar no Parque da Jaqueira (zona norte do Recife), mas eu não tinha tanta paciência. E foi aí que passei a intercalar com a corrida. Em pouco tempo, eu estava correndo. E correndo bem”, conta.

Formado em 1991 pela Universidade Federal de Pernambuco, Júlio fez especialização em Endodontia em São Paulo. Ao voltar para o Recife, abriu uma escola de aperfeiçoamento profissional. Porém, o estresse da profissão foi responsável pelo descontrole da pressão arterial e uma péssima qualidade do sono. “Há uma pessoa antes e outra depois de começar a correr. Eu não dormia. Vivia com o controle da televisão na mão”, lembra.

Das caminhadas para as maratonas

Em 2007, Júlio Cordeiro decidiu, literalmente, apertar o passo. “O processo foi muito rápido. Quando passei a caminhar, comecei a me animar e participei da minha primeira corrida, no Natal de 2007”, recorda o cirurgião-dentista natural de Tabira (PE), que não parou mais desde então.

O ritmo de provas de Júlio Cordeiro aumentou substancialmente até 2018. O motivo? Ele tinha como meta alcançar a marca de 100 maratonas. Além disso, a prática permitia aliar a paixão pelas corridas com as viagens. O pernambucano correu 39 maratonas em 21 países. No Brasil, foram mais 78, totalizando 117 provas, sendo sete delas ultramaratonas, quando o percurso é acima de 42 km. Os números de Júlio Cordeiro são impressionantes:

• 110 maratonas = 4.620 quilômetros
• 7 ultras = 426 quilômetros
• Total (117) = 5.046 quilômetros

Mas os resultados são fruto de muito treino e, principalmente, disciplina. Para conciliar as corridas com o consultório, o despertador toca antes das 5h. No entanto, o que é difícil para muitas pessoas – pular da cama – mostra-se um dos principais benefícios observados no trato com os pacientes. “Essa disciplina melhorou muito a vida profissional. De manhã, eu acordo cedo, corro, já estou bem, com uma energia boa. Quando você vai atender o paciente, é outro nível. Quando fico de mau humor, minha própria esposa me manda correr”, ri Cordeiro.

Na opinião do endodontista, a corrida saudável se dá entre 10 km e 15 km, pois a maratona gera um intenso desgaste. Desta forma, não são todas as pessoas que estão preparadas para essa tarefa. “Isso não é demérito, mas tudo começa por esse processo de gostar de correr e querer sair da zona de conforto, o que não é fácil”, pondera.

O poder da mente além das pernas

Júlio Cordeiro diz que o importante é completar as corridas em detrimento à preocupação em baixar o tempo. A concentração e a mente saudável são aliadas fundamentais para completar um percurso. Sobre a proporção entre corpo e mente no rendimento, o endodontista acredita que a parte física tem menos protagonismo que a parte mental durante uma prova. “Eu acho que a mente equivale a 80%. Por várias vezes, já treinei com pessoas que estavam com condicionamento melhor e pensava: ‘esse cara vai ganhar de mim’, mas na hora da corrida se assustava por medo de ter cãibra. Ele estava muito mais preparado no corpo, mas a cabeça não acompanhava”, define.

Para os colegas que querem começar na corrida de rua, ou até mesmo passar para a prática da maratona, Júlio Cordeiro recomenda a iniciação através da caminhada. E, para aqueles que seguem procrastinando, fica a certeza de que o esforço vale a pena. “É uma coisa prazerosa e você quer passar para todas as pessoas. Você faz a sua parte para dar o exemplo, mas tudo tem o seu tempo, cada um tem o seu tempo. Uma pessoa perguntou o que eu ganhava correndo, e eu respondi com duas palavras: ganho saúde”, finaliza o endodontista.

Anelisa Bason: “Se eu fico parada, é por orientação médica”

A implantodontista Anelisa Bason não gosta nem da ideia de ficar parada. Desde criança, ela tem a prática esportiva como uma necessidade, muito além de um mero hobby ou somente para competir. Aos dez anos de idade, ela fraturou a perna em espiral, quando precisou de cirurgia para a colocação de uma placa e seis pinos – que lhe custaram quatro meses sem andar. Além de uma segunda cirurgia, Anelisa passou também por sessões de fisioterapia. Porém, o ortopedista alertou para a necessidade dela fortalecer a musculatura. E aquilo, que se deu como um episódio triste, acabou sendo o primeiro passo de uma vivência esportiva que começou com a ginástica aeróbica.

“A partir daí, eu adorei aquele clima de várias pessoas, aquela socialização, o bem-estar que o exercício físico proporciona”, diz a cirurgiã-dentista que também fez aula localizada, spinning, steps, entre outros. Aliás, Anelisa tem um componente essencial para todos os atletas. “Eu nunca consegui ficar parada. Se eu fico parada, é por orientação médica”, afirma.

Vanguarda na Odontologia da Baixada Santista

Atualmente com 47 anos e um filho de oito, Anelisa Bason se formou em 1997, mas tomou uma importante decisão profissional dois anos depois: abriu uma clínica em São Vicente (SP) com outro sócio. Em 2008, ela decidiu transferir a empresa para Santos (SP), com foco em Implantodontia. Sempre muito ativa, Anelisa fez especialização em Odontologia Hospitalar no Hospital Albert Einstein, experiência que culminou com a implementação do primeiro serviço de Odontologia Hospitalar em UTI em Santos, quando atuou como coordenadora entre 2018 e 2020. Em paralelo, a cirurgiã-dentista se dedica a procedimentos de Harmonização Orofacial. Para dar conta de tantas demandas, a profissional mantém uma rotina de 1h a 1h30 de treinos, de segunda a sexta-feira, com exercícios de manutenção nos finais de semana. “Eu gosto de me exercitar todos os dias. Já boto meu filho na bicicleta logo cedo, deixo ele na escola e vou para a academia”, revela.

Anelisa destaca o prazer e o hábito de praticar esportes pela manhã, muito em função dos inúmeros benefícios que os neurotransmissores proporcionam e que serão essenciais na sequência do seu dia. “Eu já fiz crossfit, surfei e andei de skate até ficar grávida. Foram diversas modalidades, mas eu entendo que o que meu corpo gosta mais e reage melhor com a musculação. Se eu não fizesse atividade física, não seria tão feliz quanto sou”, afirma a implantodontista, que optou por não ter carro. “Tudo o que eu posso fazer de bicicleta ou a pé, eu faço”, conclui.