Aventura e Odontologia: do mocho para os mares, céus e terra

Aventura e Odontologia: do mocho para os mares, céus e terra

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Profissionais da Odontologia encontram nos esportes de aventura uma válvula de escape em busca de bem-estar e qualidade de vida.

Como a maioria dos cirurgiões-dentistas, eles enfrentam rotinas diárias exaustivas em seus consultórios, com muitas horas de trabalho, além de se dedicar aos estudos de aperfeiçoamento, especialização e atualização. Buscar atividades que relaxem a mente e exercitem o corpo é o caminho mais comum, mas eles foram além e encontraram na aventura – seja no voo livre, no surfe, na mountain bike, no kitesurf ou no skate – os ambientes ideais para liberar toda a adrenalina do dia a dia da Odontologia e recarregar as baterias.

Nesta reportagem, Ricardo Hochheim, Bruno Lafraia, Antônio Carlos Albgnente Junior e Fernanda Brenda contam como conciliam a Odontologia e os esportes de aventura, e como essas atividades os ajudam na prática da profissão.

De asa delta pelos céus do Brasil

Odontologia aventura

Natural de Blumenau (SC), com 40 anos de profissão, Ricardo Hochheim é especializado em Prótese Dentária, Periodontia e Implantodontia, e, depois de formado, passou a dividir a vida de cirurgião-dentista com as atividades esportivas, que já praticava antes. Muito antes da Odontologia, herdou do pai a paixão pela aventura e, junto com o irmão, desde pequeno praticava esqui aquático, skate e surfe. Com espírito competitivo, Hochheim participava de campeonatos, e exibe uma galeria de troféus em todas as modalidades esportivas as quais já se dedicou.

Depois da fase do esqui aquático, ele e o irmão pegaram o início do skate no Brasil e se dedicaram muito ao esporte. Construíam rampas e participavam de torneios e competições. Depois disso, veio o surfe, praticado nas principais praias de Santa Catarina, como Mariscal, Bombinhas e Florianópolis.

E foi um amigo do surfe que apresentou a Ricardo o voo livre em asa delta, em 1993, e o esporte o arrebatou completamente. Até hoje, Ricardo não perde a oportunidade de levar sua asa delta aos morros de Santa Catarina nas horas vagas e de lazer para decolar e voar alto sobre as lindas paisagens da região, e também de outras partes do Brasil. Devido a problemas nos joelhos, ele trocou os esportes aquáticos e o skate pelo voo livre, e não pretende parar tão cedo.

“Participei de várias competições e cheguei a ser campeão catarinense de asa delta, mas é difícil conciliar a rotina da profissão com a dedicação para participar de campeonatos”, diz, exibindo vários troféus que conquistou nos primeiros anos de voo livre.

Trabalhando na clínica diária com casos de Reabilitação Oral com implantes, Hochheim foi vencedor de um painel científico do IN 2022 – Latin American Osseointegration Congress, tradicional evento da especialidade, com o tema “Uso de fração celular estromal para reconstrução”. Além do trabalho clínico, o catarinense também é professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb). Pertencendo a uma família de cirurgiões-dentistas, desde o avô, pai, tios e irmão, Hochheim formou-se em 1985 e, desde então, atua no instituto da família que existe desde 1930. Fez mestrado e doutorado e frequenta os principais congressos e eventos científicos de Odontologia. “Meu pai foi meu grande mestre na vida, tanto profissionalmente como na paixão pelos esportes de aventura”, declara.

Extrovertido, falante e muito ativo, Ricardo diz que muitos colegas de profissão o chamam de “maluco”, achando que seu lazer não condiz com uma vida profissional tão dedicada ao meio acadêmico e científico. “A verdade é que eu sou apaixonado por tudo que faço e vivo intensamente tanto a Odontologia como o voo livre”, conclui.

Cruzando o mar num kitesurf

Bruno Lafraia é de Santos (SP), e também recebeu de herança o amor pelos esportes de aventura muito antes da Odontologia. Seu pai, José Carlos Lafraia, foi o primeiro campeão santista de surfe e, com isso, Bruno teve o primeiro contato com esse esporte desde muito cedo. Na década de 1990, começou a andar de skate e a participar de algumas competições. No entanto, ao acumular algumas lesões, ele decidiu mudar de esporte. O caiaque também é uma modalidade que entrou cedo em sua vida e que até hoje pratica esporadicamente.

Em 1995, vendo os pilotos de asa delta sobrevoando a praia, se interessou e começou a fazer o curso, mas realizou poucos voos. Um dia, quando estava no alto do morro, em São Vicente, também no litoral paulista, avistou um kitesurf navegando no mar, e ficou fascinado. Procurou informações sobre a modalidade e viajou para Jericoacora, no Ceará, considerada a meca do esporte.

“Lá eu comecei a me dedicar mais a aprender e me desenvolvi muito no kitesurf”, conta Lafraia, que até hoje se divide entre Santos e as praias cearenses. A modalidade à qual ele mais se dedica é o down wind, que consiste em percorrer longas distâncias a favor do vento com seu equipamento. “Quando eu faço sozinho, dá para andar cerca de 40 km. Se estou com amigos, faço um pouco mais”, explica.

No ano passado, junto com um amigo, Lafraia saiu do marco zero do País, em Natal, velejando de kitesurf até São Miguel do Gostoso, também no Rio Grande do Norte, percorrendo 70 km das 10h da manhã às 16h. “Um dos momentos mais marcantes da minha vida foi velejar na frente do Marco Zero, que é na quina do Brasil, e poder avistar aquela extensão imensa da costa brasileira. Foi muito emocionante”, relembra.

Depois de ter se entregado ao kitesurf, Lafraia também aprendeu a voar de parapente, esporte que tem praticado desde 2013, e também concluiu o curso de asa delta, que havia parado, no entanto não continuou com esta modalidade. Hoje, divide seu tempo entre o consultório, em Santos, alguns voos de parapente e maior atividade com o kitesurf.

A Odontologia entrou na vida de Lafraia graças à sua avó. Músico e multi-instrumentista desde muito jovem, na época o paulista tinha uma luteria, oficina de confecção e manutenção de instrumentos musicais. Reconhecendo sua habilidade manual, a avó lhe sugeriu e pagou um curso para ser protético, em São Paulo. Ele se manteve na cidade trabalhando como músico, até que decidiu voltar para Santos e fazer a faculdade de Odontologia.

Lafraia formou-se em 2005 e tem especialização em Implantodontia e Ortodontia. Logo depois de formado, chegou a trabalhar em uma clínica popular, mas preferiu ter seu próprio negócio, e montou dois espaços em São Vicente. Há cerca de oito anos, transferiu o consultório para Santos, mas tem planos futuros de exercer a Odontologia no Nordeste, principalmente para estar mais perto do kitesurf, já que os fortes ventos da região são muito favoráveis à prática do esporte.

“Minha ideia é ter os consultórios em Santos e também no Ceará. É uma forma de continuar atendendo os pacientes daqui, mas também poder ficar mais tempo no Nordeste por causa do kitesurf”, finaliza.

De mountain bike no asfalto e na terra

O ciclismo entrou na vida de Antônio Carlos Albignente Junior desde a primeira infância, quando começou com a bicicleta com rodinhas. “Quando apareceu o mountain bike, encontrei a liberdade de poder pedalar em qualquer lugar, no asfalto, na terra ou na areia”, diz.

Sempre que pode, ele também usa sua bike como meio de transporte. “Moro a 18 km do meu consultório, o que não é uma distância longa. Talvez eu faça esse trajeto até em menos tempo do que de carro. O problema é o risco do trânsito”, pondera, considerando que São Paulo, cidade onde vive e trabalha, ainda tem muitos percursos sem ciclovias.

Nas horas de lazer, a bicicleta é sua principal opção. Sempre pautado pela segurança, ele prefere fazer caminhos mais longos e que tenham ciclovias do que dividir o asfalto como os automóveis.

“O mountain bike me tira o estresse e as preocupações do dia a dia”, diz Albignente, que faz parte do grupo Sampa Bikers, um dos mais antigos de São Paulo, que incentiva o uso da bicicleta como esporte, meio de transporte, turismo e lazer, e organiza passeios locais diurnos, noturnos, além de viagens nacionais e internacionais para conhecer os destinos de bicicleta.

Cirurgião-dentista há mais de 30 anos, Albignente é especializado em Reabilitação Oral e Estética, Implantodontia e Prótese Dentária. Ele conta que tem vários colegas de profissão que também praticam o mountain bike. “No consultório, lidamos com pessoas que vêm para resolver problemas. Então, quando pedalamos, o esforço físico, a atenção nos caminhos e a liberdade que sentimos é uma forma muito interessante de relaxarmos e termos uma válvula de escape”, detalha.

Quando perguntado sobre a ocorrência de algum acidente de bicicleta, ele responde com humor: “existem dois tipos de ciclistas: os que já caíram e os que vão cair”. No entanto, Albignente ressalta que nunca sofreu nenhum acidente grave. “Quando praticamos uma atividade de risco, a atenção tem que ser redobrada, e não podemos abrir mão dos equipamentos de segurança, como capacete, óculos, luvas e roupas coloridas, principalmente para sermos vistos pelos motoristas”, aconselha.

Ter uma boa bicicleta também faz parte dos cuidados com a segurança. Há cerca de um ano, Albignente investiu em uma mountain bike de alto padrão para garantir performance e segurança. Afinal, aventura é coisa séria.

O parapente a levou a mudar de vida

Odontologia aventura

Um mês antes de entrar na faculdade de Odontologia, em 2004, Fernanda Brenda começou a aventura de voar de parapente, em Santo Antônio do Pinhal, interior de São Paulo, cidade próxima a São José dos Campos, onde ela morava. O contato com o voo livre se deu desde muito cedo porque os tios e o avô sempre voaram de asa delta, e isso despertou seu desejo pelos esportes aéreos.

Fernanda nunca havia pensado em ser cirurgiã-dentista, mas estava trabalhando como assistente em um consultório odontológico e seu chefe a estimulou a estudar Odontologia porque achava que ela levava muito jeito para isso. “Minha ideia era estudar Engenharia Ambiental, mas ele me convenceu e eu troquei para Odontologia, e foi a melhor coisa que fiz na vida. Me encontrei completamente na minha profissão”, conta.

Durante todo o curso universitário, Fernanda trocava os finais de semana com os colegas da faculdade para voar de parapente. “Trabalhar e fazer faculdade foi bem puxado. Muitas vezes, eu dormia apenas três horas por noite, mas não abria mão de ir voar nos finais de semana. Era minha fuga. Eu voltava super calma para encarar mais uma semana de correria entre estudo e trabalho”, lembra.

Fernanda se desenvolveu rapidamente no esporte, chegando a participar de algumas competições. Depois de dois anos de prática, ela passou a se interessar pela modalidade de acrobacia em parapente. Fez um curso e começou a praticar acrobacias em Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais.

Em 2020, Fernanda passou alguns dias em Canoa Quebrada, no Ceará, apaixonou-se pela cidade e pela possibilidade de voar nas falésias da praia praticamente todos os dias. Ela havia montado um consultório em São Paulo, mas não hesitou em fazer uma aventura ainda maior. Neste ano, mudou-se com o marido, que também voa de parapente, para Canoa Quebrada, montou lá seu consultório, e agora atende os pacientes na parte da manhã e à noite. As tardes passam a ser reservadas para os voos.

“Foi a melhor escolha”, confessa Fernanda, dizendo que enfrentou uma certa insegurança em recomeçar do zero, criando uma nova carteira de pacientes. No entanto, o espírito já acostumado a enfrentar desafios encarou a grande mudança. Recentemente, sua mãe, que é radiologista, também aderiu à vida mais próxima à natureza e mudou-se para a cidade cearense. Ela trabalha com Fernanda, que já criou uma nova carteira de pacientes e encontrou o equilíbrio entre a Odontologia, o céu, o sol e o mar.